Quantcast
Channel: Orações e milagres medievais
Viewing all 378 articles
Browse latest View live

O Menino-Deus adorado por Reis dotados de conhecimentos astronômicos pasmosos: cena sagrada que encantou os medievais

$
0
0
Adoração dos Reis Magos. Beato Angelico
Adoração dos Reis Magos. Beato Angelico
Em 6 de janeiro, desde os primeiros séculos, a Igreja celebra a festa da Epifania, ou seja, a visita dos Reis, também chamados de Magos ou Sábios, que foram adorar o Menino Deus.

Epifania, em grego, significa manifestação, ou também revelação esplendorosa.

De início, a festa celebrava-se no próprio dia de Natal. O mais antigo registro dela é do historiador romano Ammianus Marcellinus no ano 361.

Foi na Idade Média, precisamente no ano de 534, que a Igreja separou as duas festas para comemorá-las com mais pompa, e fixou o dia 6 de janeiro como da Epifania ou da Adoração dos Magos

A visita significou a manifestação de Nosso Senhor não somente aos judeus, mas a todas as nações da Terra, representados pelos Reis Magos.


Segundo a tradição seus nomes eram Melchior, Gaspar e Balthazar (habitualmente representado como preto). Segundo São Mateus, eles vieram do Leste de Jerusalém, o que leva a pensar que fossem patriarcas, ou reis, vindos da área cultural da Caldéia.

Os caldeus tinham grandes conhecimentos de astronomia, de ali que os Reis fossem também chamados de Magos, nome que no caso no contém nenhuma conotação desdourante, e também de Sábios.

Estrela guiou os Reis Magos. Giotto, detalhe.
Estrela guiou os Reis Magos. Giotto, detalhe.
Conta-se que eles pertenciam a estirpes de reis locais que tiveram a intuição de que o mundo, tendo chegado a uma situação de decadência sem saída, precisaria de um Redentor que haveria de nascer dos judeus.

Pelos seus cálculos astronômicos, o nascimento haveria de ser sinalizado por uma estrela no Céu.

A tradição passou de geração em geração nas famílias desses reis, até que cumpriram-se os tempos.

E a estrela anunciada apareceu e os guiou até Belém.

Eles levaram um rico cortejo e presentes preciosos para o Salvador da humanidade.

Como foi possível tanta ciência astronômica? Não houve também um auxílio sobrenatural? Qual?

É fato que a arqueologia revela que povos antiqüíssimos possuíam conhecimentos que hoje a ciência mais avançada recupera com ingentes e admiráveis esforços e imensas aplicações de dinheiro e tecnologia. A matéria é ampla e apaixonante demais para tratá-la agora. O faremos mais adiante.

Entrementes, eis como o episódio sagrado é descrito pelo Evangelho de São Mateus (2; 1-18):

São Mateus escreveu seu Evangelho divinamente inspirado
São Mateus escreveu seu Evangelho divinamente inspirado
1. Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do oriente a Jerusalém.
2. Perguntaram eles: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.

3. A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele.

4. Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo.

5. Disseram-lhe: Em Belém, na Judéia, porque assim foi escrito pelo profeta:

6. E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as ci7dades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo(Miq 5,2).

7. Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exata em que o astro lhes tinha aparecido.

8. E, enviando-os a Belém, disse: Ide e informai-vos bem a respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo.

9. Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que e estrela, que tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou.

10. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria.

11. Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra.

12. Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho.

13. Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar.

14. José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito.

15. Ali permaneceu até a morte de Herodes para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: Eu chamei do Egito meu filho (Os 11,1).

Herodes ordena massacre dos inocentes. Notre Dame de Paris
Herodes ordena a massacre dos inocentes. Notre Dame de Paris
16. Vendo, então, Herodes que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou massacrar em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo exato que havia indagado dos magos.

17. Cumpriu-se, então, o que foi dito pelo profeta Jeremias:

18. Em Ramá se ouviu uma voz, choro e grandes lamentos: é Raquel a chorar seus filhos; não quer consolação, porque já não existem (Jer 31,15)!
Aquelas infelizes, mas gloriosas vítimas do ódio a Jesus Cristo, rei de Israel e Redentor do mundo são lembradas pela Igreja como o Santos Inocentes.

A Igreja comemora os Santos Inocentes no dia 28 de dezembro.

Sobre o rei Herodes ver: Enquanto os Santos Inocentes reinam no Céu, o túmulo de Herodes segue envolto numa lembrança horrorizada

***

Tranqüilidade sobrenatural e oração diante do Menino-Deus

Adoração dos Reis Magos, Giotto
Adoração dos Reis Magos, Giotto
No afresco do famoso pintor italiano Giotto (*), Nossa Senhora, segura seu Divino Filho no colo. Ela aparece sentada numa espécie de troneto colocado sobre um estradozinho ricamente atapetado, e ricamente vestida. Para receber os Reis, compreende-se que Ela se vestiu com aparato.

Atrás de Nossa Senhora aparecem um anjo, São José, santos e outras pessoas do Templo que o autor quis representar. Ou talvez sejam pessoas que no futuro contemplariam tal cena em espírito e em oração.

Um dos reis adora o Menino Jesus e osculando seus pés. Os dois outros monarcas estão tranqüilos, comprazidos em oração diante de Nossa Senhora e do Menino-Deus, vendo seu irmão na realeza, adorar o Divino Infante.

Estão contentes com tudo o que se passa, aguardando chegar a vez deles. Mas sem impaciência, com a tranqüilidade e a serenidade medieval, que exprimia bem a presença de Deus, o espírito e a graça divinos na alma desses personagens.

Logo atrás dos dois Reis, um pagem está freando ou subjugando o camelo, para que este não crie problemas. Esse personagem é um animalis homo, sem nada de sobrenatural, de tranqüilo e sereno. É um homem bruto, agitado e prestando atenção em tudo, de nariz pontudo, de olhos saltados e mandão. Está bem à altura de um tratador de camelos.




GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

O miraculoso reconhecimento do cinto de Nossa Senhora

$
0
0
Santo Cinto de Nossa Senhora dentro do relicário, catedral de Prato, Itália
Santo Cinto de Nossa Senhora dentro do relicário, catedral de Prato, Itália

Na catedral de Prato, Itália, não longe de Florença hoje é venerado solenemente o santo cinto, cíngulo, ou correia de Nossa Senhora.

Ele foi trazido de Jerusalém no ano de 1141 por Michele Dagomari, habitante da cidade e romeiro na Terra Santa.

Porém, em 1173, como não havia confirmação da autenticidade da relíquia, a Providência valeu-se de um fato extraordinário para que todos a reconhecessem como verdadeira.


Assunção aos Céus: os Apóstolos contemplam o túmulo vazio.  São Tomé chega tarde. (Francesco Botticini)
Assunção aos Céus: os Apóstolos contemplam o túmulo vazio.
São Tomé chega tarde. (Francesco Botticini)
A presença dos Apóstolos na Assunção é uma tradição que remonta aos primeiros séculos do cristianismo. Não faz parte do dogma gloriosamente proclamado pelo Papa Pio XII, mas é largamente aceita, como se pode verificar na iconografia tradicional.

São Gregório bispo de Tours (538-594), o maior historiador do século VI, foi o primeiro a escrever sobre a Assunção. Segundo a tradição por ele transcrita, um anjo teria avisado Nossa Senhora de sua próxima partida aos Céus.

Por sua vez, Nossa Senhora teria comunicado a notícia às pessoas mais próximas, entre as quais São João Evangelista.

Os Apóstolos teriam sido avisados e teriam tido tempo de chegar naturalmente. Porém, segundo outros, chegaram miraculosamente.

A Liturgia católica do rito maronita reza: “Vós sois, ó Maria, a Mãe Puríssima, fonte de abundantes bênçãos; Vós sois a plena de graça, que quando deixastes este mundo, vieram todos os santos Apóstolos de distantes regiões, para vê-La partir para o Céu, enquanto os Anjos do Altíssimo, diante de Vós, cantavam com alegria”.

Nossa Senhora dá seu cinto a São Tomé. Benozzo Gozzoli
Nossa Senhora dá seu cinto a São Tomé. Benozzo Gozzoli
Os Apóstolos certamente estavam acompanhados e havia a presença dos fiéis que moravam nas proximidades da casa da Santíssima Virgem. A Santa Casa de Loreto conserva um altar dito dos Apóstolos, onde eles celebravam Missa por ocasião das visitas que faziam a Nossa Senhora. Ver em: Transladação da Santa Casa

São João Damasceno, Padre da Igreja, se refere à tradição do Oriente a respeito. Segundo ele, durante o Concílio de Calcedônia, o imperador Marciano e a imperatriz Pulquéria pediram o corpo de Nossa Senhora a Juvenal (422 – 458), bispo de Jerusalém e primeiro Patriarca da cidade.

O Patriarca respondeu, segundo o Damasceno, que Ela morreu rodeada de todos os Apóstolos, salvo São Tomé, que chegou com alguns dias de atraso.

O retardatário São Tomé teria pedido a São Pedro para ver o túmulo e constatou que o mesmo estava vazio. Nesse momento, ao levantar suas vistas para o céu, Tomé viu Nossa Senhora na Glória, que, sorridente, desatou o cinto e lançou-o em suas mãos como símbolo de maternal bênção e proteção.

Segundo outras versões, Santo Tomé, que chegara atrasado, só viu a Assunção de longe. Teria sido um castigo por ele ter duvidado da Ressurreição. Mas um castigo moderado pela misericórdia de Nossa Senhora que lhe teria feito, à distância, o dom de seu cinto.

Relicário é aberto nas exposições solenes na catedral de Prato
Relicário é aberto nas exposições solenes na catedral de Prato
O culto do cinto de Nossa Senhora foi instituído por Santo Agostinho, o grande Doutor da Igreja, e continua sendo difundido pelos bons sacerdotes agostinianos.

É o famoso cinto bento, dito de Santo Agostinho, mas que é de Nossa Senhora, o qual é especialmente protetor contra os assaltos do demônio e da impureza.

É a origem da devoção a Nossa Senhora da Correia, também chamada de Nossa Senhora da Consolação.

Sobre este culto piedoso e muito popular escreveu São Germano, Patriarca de Constantinopla, por volta de 720: “Não é possível ver vossa venerável correia, ó Santíssima Virgem, sem sentir-se cheio de alegria e penetrado de devoção”.

O monge Eutino, que viveu pelos anos 1098, pregando sobre ela, dizia: “Nós veneramos a Santa Correia, vemos conservar-se inteira depois de 900 anos: Cremos realmente que a Rainha do Céu cingiu-se com ela”.

O cinto estava em Prato, Itália, em 1173. Mas, o problema é que não se tinha certeza da autenticidade da relíquia, na falta de documentação canônica ou outra digna de fé.

O bispo de Prato expõe à veneração popular o Santo Cinto.  Púlpito externo da catedral de Prato.
O bispo de Prato expõe à veneração popular o Santo Cinto.
Púlpito externo da catedral de Prato.
Naquele ano, a Providência valeu-se de um fato extraordinário para que todos  reconhecessem sua autenticidade.

No dia de Santo Estêvão, padroeiro da cidade, colocavam-se todas as relíquias sobre o altar, para  com elas serem abençoados os doentes e os endemoninhados.

Na ocasião, foi exposta também a caixa contendo o cinto de Nossa Senhora.

Aproximaram então uma possessa que, no momento em que tocou a caixa, começou a afirmar com insistência que esse cinto era da Santíssima Virgem, e no mesmo instante viu-se liberada de seu mal.

Iniciou-se então o culto público à sagrada relíquia. O próprio São Francisco de Assis esteve com seus primeiros frades em Prato, no ano de 1212, para venerá-la.

São Tomé recebe o cinto. Andrea della Robbia
São Tomé recebe o cinto. Andrea della Robbia
Entre as muitas representações do episódio do presente do cinto por ocasião da Assunção, temos a famosa terracota de Andrea della Robbia.

Ou o célebre quadro de Benozzo Gozzoli (acima) sobre o mesmo glorioso fato.

Podemos assim acreditar piedosamente, em união com a tradição da Igreja, que todos os Apóstolos, inclusive o retardatário Tomé, se reuniram para a Assunção.

Nesta festa podemos elevar a ele a mesma oração que Santo Agostinho compôs a propósito da dúvida que o apóstolo tivera sobre a Ressurreição:

 “Oh, bem-aventurado Tomé, tu tocaste com a mão e, pela tua dúvida, inúmeros céticos acabaram crendo!”.

Foi por meio dele, ou a propósito dele, que o cíngulo de Nossa Senhora ficou nesta terra e é venerado desde a Idade Média na catedral de Prato, Itália.




GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

São Leofredo, o abade que deu uma surra em Satanás

$
0
0
São Leofredo surra diabo que fingia ser monge, santinho italiano
São Leofredo surra diabo que fingia ser monge, santinho italiano
São Leofredo (Leutfrido, Leufroi, ou Leufroy) foi um abade francês do século VIII canonizado pela Igreja Católica.

Leofredo estudou na abadia de Condat e em Chartres. Ensinou em Evreux, França. Viveu como ermitão em Cailly e Ruão.

Fundou a abadia da Santa Cruz de Saint-Qu'en por volta de 690. A abadia foi renomeada como Saint-Leufroy em honra do santo, seu fundador.

São Leofredo morreu no ano 738 e sua festa se comemora em 21 de junho. De São Leofredo, escreve Ernest Hello na sua “Fisionomia dos Santos”:

Nasceu na Neustria; de boa família, a qual deixou para ser sacerdote. Depois de muita luta, fundou a Abadia de Santa Cruz. Sofreu perseguições por seu espírito independente. Recebeu o dom dos milagres e da profecia. Era extremamente severo.

Como não tivesse cabelo, um dia, uma mulher, dele zombou. Disse-lhe o santo: Por que zombas de um defeito da natureza? Não tenha na tua cabeça mais cabelos do que eu tenho na testa; e o mesmo suceda a teus descendentes.


Trabalhavam, uns camponeses, no dia domingo. Levantou o santo os olhos ao Céu, dizendo:

– Senhor, fique essa terra eternamente estéril. Nunca nela se veja nem grão, nem trigo. E o campo encheu-se de cardos e espinhos.

São Leofredo tinha um zelo de misericórdia, mais de justiça mais ardente ainda.

As cóleras de São Leofredo acendiam as chamas da Caridade. As suas imprecações, o poder de sua caridade, o seu amor aos pobres, o seu ódio à injustiça, são as linhas paralelas de sua vida.

Um de seus religiosos morrera; e, com ele, encontraram três moedas. Estava violando o voto de pobreza. Leofredo mandou enterrá-lo em terra profana.

São Leofredo: detalhe de vitral de Saint-Ouen, Ruão, França
São Leofredo: detalhe de vitral de Saint-Ouen, Ruão, França
Depois, fez um retiro de 40 dias; rezando e chorando pela alma daquele que parecera rejeitar.

E após esses dias, o Senhor revelou-lhe que Sua misericórdia havia liberado a alma que Sua justiça condenara.

“Sua fúria contra o demônio era tremenda”.

Uma vez, estando em sua cela, um frade foi avisá-lo que o demônio estava aprontando na Igreja. Reconhecendo seu velho inimigo, o santo correu à capela e fez sinal da cruz sobre as portas e as janelas, como para vedar as saídas.

E, avançando sobre ele bateu-lhe com furor”.

O demônio quis fugir, mas as saídas estavam vedadas. O corpo que ele tomara para si, poderia ter se dissipado subitamente. Parece, porém, que ele não teve permissão para isso. Deus quis humilha-lo sob as pancadas de São Leofredo”.

Muito pouca gente reage e luta contra o demônio com furor.

Ora, o demônio merece ser repelido com ódio. E quando ele se aproxima de nós, nós devemos ter um assanhamento de ódio maior do que nós temos com qualquer pessoa viva nesta terra.

Porque é o inimigo declarado de Deus, o inimigo declarado de nossa alma, que quer toda espécie de mal; e quando nos sentimos tentados, nós devemos ter contra ele um ódio militante, como São Miguel Arcanjo.

Há coisa melhor do que esse exemplo de São Leofredo?

São Leofredo bateu no corpo, que era um boneco que o demônio usava.

Naturalmente, aquelas pancadas, atormentavam mesmo o demônio. Como o atormenta a gente falar mal dele. Que humilhação!

Pode-se imaginar São Leofredo, já velho, de barba branca, cabelo branco, mas muito conservado ainda; de olhos castanhos. Mas forte e dando pancada com uma serenidade e um ódio únicos. E aquele “boneco” gemendo e estertorando até acabar de ser visto fugindo pela torre.

Valeria a pena, numa época futura, edificar uma capela consagrada a São Leofredo e à Santa Teresinha que também pôs em fuga os demônios.

São Leofredo e Santa Teresinha do Menino Jesus formariam um conjunto perfeito.

São Leofredo:iluminura medieval, França
São Leofredo:iluminura medieval, França
Queremos medir a intensidade de nosso amor?

Examinemos a intensidade de nossa cólera ao contrário daquilo que amamos. É assim que nosso amor se conta.

O amor perfeito percebe tudo; a cólera perfeita percebe tudo. O amor perfeito só se alimenta da cólera, e a cólera perfeita também só se alimenta de amor.

O amor perfeito vive da contemplação daquele que ama e a cólera perfeita vive da contemplação daquilo que odeia. E o ato do amor é a perfeição do amor; o ato de cólera é a perfeição da cólera.

“Eu durmo, mas o meu coração vigia”. Isso se pode dizer do amor. É como uma mãe que está com o filho muito doente. Ela dorme, mas o coração dela não dorme.

Da mesma forma os católicos deveriam poder dizer de si: nós dormimos, mas o nosso ódio ao demônio não dorme. É que, até no sono, nós devemos ser uma tocha viva de ódio contra o mal e contra os inimigos de Nossa Senhora.

Aí, se pode dizer: “eu durmo, mas o meu coração vigia à espera do momento da ocasião de glorificar ainda mais Nossa Senhora”!

(Fonte: Professor Plinio Corrêa de Oliveira, 20-06- 1967. Sem revisão do autor).




GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

Don Galcerán De Pinós, o cruzado liberado por Santo Estevão

$
0
0
Santo Estevão, Salamanca
Santo Estevão, Salamanca

No século XII, Afonso, Imperador de Castela, sustinha renhidas batalhas contra o rei mouro de Granada.

O Conde de Barcelona acudiu em sua ajuda, fretando naves catalãs e genovesas.

Era almirante das primeiras, Galcerán Guerras de Pinós. Em seu afã das vitórias, se adiantou demasiado no território mouro e caiu prisioneiro.

Seus pais, os senhores de Bagá, estavam desesperados. O Conde de Barcelona se pôs em tratos com o Rei de Granada, para ver que resgate pedia pelo almirante Galcerán.

O Rei de Granada, enfurecido por ter perdido Almería, pediu um resgate exorbitante: cem mil dobles, cem cavalos brancos, cem vacas bragadas, cem panos de ouro de Tanis, e o que era pior de tudo, mais cem donzelas.

Os senhores de Bagá se aterrorizaram ante a última condição e decidiram que, apesar de muita dor que lhes causava ter o filho cativo dos mouros, não podiam consentir, para que ele fosse devolvido, que tantos pais sofressem a dor de ver perdidas para sempre suas filhas.

Não obstante, foram muitos os argumentos dos poderosos senhores que opinaram que o povo devia sacrificar-se, e que o almirante representava uma grande ajuda para a Cristandade. Aquele que tivesse quatro filhas, devia entregar duas; o que tivesse duas, daria uma, e o que tivesse uma seria sorteado com outro que tivesse uma também.



Visite nossas páginas de Quaresma, Semana Santa e Páscoa 
 † Veja e medite a VIA SACRA AQUI †

Recolheram por fim, tudo quanto o Rei mouro de Granada queria e partiram, para embarcar na praia da Salon.

Entretanto, Galcerán Guerras de Pinós, estava encerrado numa masmorra imunda, sofrendo todos os horrores da escravidão. Com ele se achava também o cavaleiro Sancerni, senhor de Sull.

Várias vezes haviam tentado fugir, sem conseguir. Outras tantas quiseram subornar a seus guardas, e tampouco tiveram êxito.

Santo Estevão, catedral de Newcastle
Santo Estevão, catedral de Newcastle
Galcerán, que era mais jovem sonhava constantemente com sua casa de Bagá, seus salões, seus jardins e sua capela. A lembrança disso trouxe a sua mente o desejo de encomendar-se a Santo Estevão, o patrono de sua casa.

Rezou com grande fervor, encomendando ao santo sua salvação. Terminada sua reza, os cativos viram que se havia aberto a porta de sua masmorra e um homem celestial, aproximando-se de D. Galceran levou-o para fora.

O almirante sempre cortês e caritativo, parou na porta, indicando com o olhar ao senhor de Sull, que ficaram muito assustado.

Então o santo falou, para que ele também se encomendasse ao seu patrono.

Fez assim, o cavaleiro de Sancerní, rezando com o mesmo fervor a ao Dionizio, o qual não deixou de acudir, libertando a ele também.

Ambos se encontraram caminhando livres à meia-noite e com grande surpresa, se encontraram com o clarear do dia em Tarragona.

Continuando pelos caminhos de Bagá, vieram de pronto uma multidão silenciosa que marchava em direção contrária.

Perguntaram aonde iam, e um homem de gesto grave e dolorido lhes respondeu que se dirigiam para Granada pagar o resgate de Dom Galcerán e de D. Sancerní, para o qual haviam sacrificado cem donzelas.

Os cavaleiros, então, se deram a conhecer, e entre felicitações a Deus empreenderam todos o caminho até Tarragona.

Mais tarde, quando Valencia foi libertada, o almirante mandou levantar a igreja de Santo Estevão, daquela capital, em ação de graças.

Hoje, entretanto, se recorda a aventura que tanta angustia proporcionou a tantas famílias do senhor de Galcerán, de pais e filhos, se conta as peripécias dos cavaleiros, cujos sepulcros se conservam na história do mosteiro de Santo Creno. (p.198 e 199)

(Fonte: V. Garcia de Diego, Antologia de Leyendas de la Literatura Universal, Editorial Labor S.A., Madrid-Espanha, 1ª edição, 1953).




GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

Os 800 Mártires de Otranto

$
0
0
Nossa Senhora na capela dos mártires, igreja de Santa Caterina a Formiello, Otranto
Nossa Senhora na capela dos mártires,
igreja de Santa Caterina a Formiello, Otranto

Em 1480, a Itália celebrava a festa da Assunção com liturgias espetaculares, procissões e, claro, banquetes.

Com a exceção de Otranto, uma pequena cidade da Puglia, na costa do Adriático, onde 800 homens ofereceram suas vidas a Cristo.

Eles foram os Mártires de Otranto.

Poucas semanas antes, a frota turca atracara em Otranto. Sua chegada era temida há muitos anos.

Desde a queda de Constantinopla, em 1454, era apenas uma questão de tempo até que os turcos otomanos invadissem a Europa.

Otranto está mais próxima do lado leste do Adriático controlado pelos otomanos.

São Francisco de Paula reconheceu o perigo iminente para a cidade e seus cidadãos cristãos e pediu reforços para proteger Otranto.

Ele predisse: “Ó, cidadãos infelizes, quantos cadáveres vejo cobrindo as ruas? Quanto sangue cristão vejo entre vocês?”

A 28 de julho de 1480, 18.000 soldados turcos invadiram o porto de Otranto. Eles ofereceram condições de rendição aos cidadãos, na esperança de ganhar sem resistência este primeiro ponto de apoio na Itália e completar a conquista da costa adriática.


Monumento aos heróis e muralhas de Otranto
Monumento aos heróis e muralhas de Otranto
O sultão Mehmed II havia dito ao Papa Sisto IV que levaria seu cavalo para comer sobre o túmulo de São Pedro.

O Papa Sisto, reconhecendo a gravidade da ameaça, exclamou: “pessoas da Itália, se quiserem continuar se chamando de cristãos, defendam-se!”

Apesar de suas advertências terem-se esquecido nos ouvidos da maioria das cabeças coroadas da península –estavam muito ocupadas brigando entre si– o povo de Otranto escutou.

Pescadores, não soldados; eles não tinham artilharia. Eram menos de 15 mil, incluindo mulheres, crianças e idosos. Mas, por comum acordo, eles decidiram guardar a cidade, lançando-se ao combate das forças turcas.

A sofisticada artilharia turca danificava as muralhas de defesa, mas os cidadãos consertavam rapidamente os estragos.

Detrás dos muros, os turcos encontraram cidadãos impávidos, determinados a defender as muralhas com óleo fervendo, sem armas, e às vezes usando as próprias mãos.

Os cidadãos de Otranto frustraram o plano do Sultão de um ataque surpresa e deram à Itália duas semanas de tempo precioso para organizar e preparar suas defesas para repelir os invasores. Mas a 11 de agosto os turcos venceram os muros e açoitaram a cidade.

O exército turco foi de casa em casa, promovendo saques, pilhagens e, em seguida, ateando fogo. Os poucos sobreviventes refugiaram-se na catedral.

O arcebispo Stefano, heroicamente calmo, distribuiu a Eucaristia e sentou-se entre as mulheres e crianças de Otranto, enquanto um frade dominicano conduzia os fiéis em oração.

Capela com as relíquias dos 813 mártires na igreja de Santa Caterina a Formiello, Otranto
Capela com as relíquias dos 813 mártires na igreja de Santa Caterina a Formiello, Otranto
O exército de invasores arrombou a porta da catedral e a posterior violência contra mulheres, crianças e o arcebispo –que foi decapitado no altar– chocou a península italiana.

Os turcos tinham tomado a cidade, destruído casas, escravizado o povo e transformado a catedral em mesquita.

Cerca de 14.000 pessoas morreram na tomada de Otranto, na maior parte seus próprios cidadãos, mas um pequeno grupo de 800 sobrevivera, então os turcos tentaram o domínio completo, forçando a conversão.

A opção era o Islã ou a morte. Oito centenas de homens, acorrentados, sem casa e família, pareciam totalmente subjugados aos turcos vitoriosos.

Um dos 800, um trabalhador têxtil chamado Antonio Primaldo Pezzula, passou de artesão humilde a líder heróico nesse dia.

Antonio voltou-se para seus companheiros de Otranto e declarou: “Vocês ouviram o que vai custar salvar o que resta de nossas vidas! Meus irmãos, lutamos para salvar nossa cidade, agora é tempo de lutar por nossas almas!”

Os 800 homens com idades acima dos 15, de forma unânime, decidiram seguir o exemplo de Antonio e ofereceram suas vidas a Cristo.

Os turcos, que esperavam por um momento de propaganda triunfante, tentaram evitar o massacre. Eles ofereceram o retorno das mulheres e crianças que estavam prestes a ser vendidas como escravos, em troca da conversão dos homens, e eles ameaçaram com a decapitação em massa se isso não fosse aceito. Antonio recusou, seguido pelo resto dos homens.

Altar representando o martírio e o milagre, Santa Caterina a Formiello
Altar representando o martírio e o milagre, Santa Caterina a Formiello
Na vigília da Assunção, os 800 foram levados para fora da cidade e decapitados. A tradição conta que Antonio Pezzula foi decapitado em primeiro lugar, mas seu corpo sem cabeça permaneceu de pé até que o último otrantino estivesse morto.

Um dos carrascos, um turco chamado Barlabei, ficou tão impressionado com esse prodígio que se converteu ao cristianismo, e também foi martirizado.

Os restos foram cuidadosamente recolhidos, e são mantidos até hoje na Catedral de Otranto. No aniversário de 500 anos de sacrifício dos otrantinos, o Papa João Paulo II visitou a cidade e prestou homenagem aos mártires.

Bento XVI reconheceu oficialmente o martírio em 2007, trazendo Antonio Pezzula e seus companheiros um passo mais perto da canonização.

Esta “hora dos leigos” em Otranto, separados de nós por meio milênio, ainda ressoa como exemplo de testemunho do amor a Cristo.

Poucos de nós serão chamados ao mesmo sacrifício de Antonio Pezzuli e seus companheiros, mas como poderíamos responder a sua exortação: “Permanecei fortes e constantes na fé: com esta morte temporal nós ganharemos a vida eterna”.
Professora Elizabeth Lev
Professora Elizabeth Lev



(Autor: Dra. Elizabeth Lev, professora de Arte e Arquitetura Cristã no campus italiano da Universidade de Duquesne, de Pittsburgh, EUA e da Universidade São Tomás, de Saint Paul, Minnesota, EUA. Apud ZENIT





GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

O sino: simbolismo e efeitos benéficos. A oração do Ângelus

$
0
0
"O ângelus", Jean-François Millet (1814-1875)
A oração do Ângelus compõe-se de duas partes essenciais: a oração e o som do sino.

O sino dá ao Ângelus uma solenidade excepcional.

Por que o sino toca o Ângelus de manhã, ao meio-dia e à tarde?

Por ordem da Igreja Católica, cumpre a palavra do rei profeta: "À tarde, de manhã e ao meio-dia, cantarei os louvores de Deus, e Deus ouvirá a minha voz".

Clique para ouvir o carilhão das horas da catedral de Paris :


À tarde, canta o princípio da Paixão do Redentor no Jardim das Oliveiras.

De manhã, a sua Ressurreição, e ao meio-dia a sua Ascensão.


Sino da Catedral de Brouges, França
De manhã, dá o sinal do despertar, da oração e do trabalho.

Ao meio-dia, adverte o homem de que a metade do dia é passada, e que a sua vida não é mais que um dia.

À tarde, toca ao recolhimento e ao repouso.

Diz ao homem: faze tuas contas com Deus, pois esta noite talvez Ele exigirá a tua alma.

Fazendo ouvir a sua voz três vezes por dia, recorda aos cristãos as lembranças de um glorioso passado, essas belicosas expedições, a honra eterna dos Papas, que salvaram o Ocidente da barbárie muçulmana.

Clique para ouvir os sinos da abadia de Ettal, Alemanha:


Toca três vezes, para recordar as três Pessoas da Trindade, às quais o mundo é devedor da Encarnação.

Toca nove vezes, em honra dos nove coros de anjos, para convidar os habitantes da Terra a abençoar com eles o seu comum benfeitor.

Entre cada tinido - ou melhor, entre cada suspiro - deixa um intervalo, para que sua voz desça mais suavemente ao coração e desperte com mais segurança o espírito de oração.

Por que, depois do tinido do Ângelus, o sino faz ribombar sua voz? Canta uma dupla redenção: a redenção dos vivos, pelo mistério da Redenção, e a redenção dos finados, pela indulgência ligada ao Ângelus.

Clique para ouvir os sinos da catedral de Aachen, Alemanha:


Catedral de Aachen (Aquisgrão), Alemanha
Ao Purgatório toca uma felicidade, e a Maria a saudação de uma alma que entra no céu.

Assim opera a Igreja da terra, cheia de ternura por sua irmã padecente.

Por que chora o sino na agonia? Se reflete as alegrias deve refletir também as dores.

Para sustentar o jovem cristão nos combates da vida, o sino pede as nossas orações.

Como não solicitá-las nas lutas da morte? Entre todas, estas lutas não são as mais terríveis e as mais decisivas.

No toque da agonia, o sino diz: "Miseremini mei saltem vos amici" - Tende piedade de mim, pelo menos vós que fostes meus amigos!

Vinde orar por mim, vinde sepultar o meu corpo, vinde acompanhá-lo à igreja, depois ao dormitório, onde ele deve repousar até a ressurreição dos mortos.

O sino, nesse momento, assemelha-se a uma mãe que, na sua terna solicitude, não se permite nem paz nem trégua, para clamar em socorro de seus filhos desgraçados e obter a sua libertação.

Clique para ouvir o sino môr da catedral de Paris :


Também o sino deve tornar o cristão invencível na sua guerra contra os demônios.

Ao estridor dos sinos - acrescenta um de nossos antigos liturgistas - os espíritos das trevas são penetrados de terror, da mesma forma que um tirano se espanta quando ouve ressoar nas suas terras as trombetas guerreiras de um monarca seu inimigo.

Toque de recolher: no inverno, nos países montanhosos, pelas nove horas da noite, o sino faz ouvir a sua voz mais forte.

Chama o viajante desencaminhado, e indica-lhe a estrada que deve seguir para chegar ao lugar onde achará a hospitalidade.

Uma imagem do que também acontece com as almas perdidas no pecado.

Eram inteiramente outros os sentimentos de nossos religiosos antepassados.

Testemunhas inteligentes das bênçãos e das consagrações praticadas pela Igreja no batismo dos sinos, devotavam-lhe um profundo respeito e santo pavor.

Clique para ouvir os sinos da catedral de São Pedro, Bremen, Alemanha :


Daí vem que temiam infinitamente mais jurar sobre um sino consagrado do que sobre os próprios Evangelhos.

(Fonte: Mons. Gaume, “L’Angelus au dix-neuvième siècle”)






GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

As bênçãos do toque do sino

$
0
0
Sino da igreja de Vitrolles, França
O sino é quase tão antigo quanto à civilização.

Porém, como nós o conhecemos é um instrumento típico das igrejas católicas e dos prédios públicos da Cristandade.

Ele fica um instrumento religioso quando a Igreja Católica lhe confere suas bençãos e lhe comunica seu poder exorcístico numa cerimônia especial,

Os primeiros sinos eclesiásticos importantes apareceram nos mosteiros nos séculos IV e V, i. é, na ante-véspera e no iniciozinho da Idade Média.

Catedral de Viena, Áustria
Eles se generalizaram nas igrejas católicas já no século VII. Na dianteira saiu a região da Campania, na Itália, cuja capital é Nápoles. 

Do nome de Campânia vem a palavra "campana", com que também se designa o sino.

Mas, só a partir do auge da Idade Média, quer dizer, no século XIII que os progressos na fundição dos metais permitiram aparecer os grandes sinosinstalados nas catedrais e grandes igrejas.

Clique para ouvir os sinos da catedral de Viena :

Pouco ou mal se fala sobre este fruto abençoado da Igreja Católica que assumiu sua forma atual na Idade Média.

Alias, o quanto seus efeitos benéficos se fariam mais intensamente se hoje se eles fossem tocados como a Igreja quer!



Quantos sabem quais são os efeitos espirituais santificantes do sino das igrejas?


O "Emmanuel": o maior sino (bourdon) de Notre Dame de Paris
Eis, uma substanciosa explicação das bençãos do toque do sino feita por um digno representante do clero francês, Mons. Jean-Joseph Gaume (1802-1879), célebre pela sua ciência teológica:

Como todas as grandes e belas coisas, é à Igreja que devemos o sino.

O sino nasceu católico, por isso a Igreja o ama como a mãe ama o seu filho. Ela benze o metal de que é feito.

Logo que ele veio ao mundo, a Igreja o batizou e fez dele um ente sagrado.

Clique para ouvir os sinos da torre norte da catedral de Notre Dame de Paris :

Com razão, porque o sino é destinado a cantar tudo o que há de santo e de santificante na terra e no céu.

Pelas orações e cerimônias que o acompanham, o batismo vai dizer-lhe a sua vocação.

A Igreja sempre teve em muito respeito o sino, o que se mostra com novo esplendor nas preces e nas cerimônias do seu batismo.

O bispo é o príncipe da Igreja que ocupa a cátedra
daquela quee por isso mesmo se chama catedral.
Bispo na caedral de Lübeck, Alemanha
Reunidos os fiéis em roda do sino, suspenso a alguns metros acima do solo, o bispo em hábitos pontificais chega majestosamente, acompanhado do clero e seguido do padrinho e da madrinha do sino.

Em nome de Deus, de quem é ministro, o bispo chama sobre essa maravilhosa criatura a virtude do Espírito Santo, que a torna fecunda no primeiro dia da criação.

Certo de ser atendido, o bispo asperge o sino, ao qual confere o poder e o dever de afastar de todos os lugares, onde seu som repercutir, as potências inimigas do homem e de seus bens: os demônios, as trombas, o raio, o granizo, os animais maléficos, as tempestades e todos os espíritos de destruição.

Vejamos sua missão positiva.

A sua voz proclamará os grandes mistérios do Cristianismo, aumentará a devoção dos cristãos, para cantar novos cânticos na assembléia dos santos, e convidará os anjos a tomar parte nos seus concertos.

O sino fará tudo isto, porque esta missão lhe é confiada em nome d'Aquele que possui todo o poder no céu e na terra.

Clique para ouvir os sinos da abadia de Ettal, Alemanha:

Cada badalada faz retinir ao longe os dois mistérios de morte e de vida - alpha e ômega - mistérios necessários para orientar a vida do homem, consolar as suas esperanças.

Não admira, pois, que o bispo, dirigindo¬-se ao próprio sino, o dedique a um santo ou a uma santa no paraíso, e lhe diga, com uma espécie de respeitosa ternura: “Em honra de São N., a paz doravante seja contigo, caro sino”.

Sino de uma capela em Dubrovnik, Croácia
Como o sino deve ter um nome, é preciso também que ele tenha um padrinho e uma madrinha.

O nome é gravado no sino, abaixo da cruz em relevo, que o marca com o selo de Nosso Senhor e o consagra ao seu alto culto.

Daí vem um fato pouco notado: o amor dos verdadeiros filhos da Igreja ao sino, e o ódio que lhe têm os inimigos de Deus.

Uma das mais doces alegrias de nossos pais, ao saírem da Revolução Francesa, foi ouvir os sinos, que haviam emudecido durante muitos anos.

Este incontestável poder do sino contra os demônios do ar justifica a virtude que ele goza, de dissipar os ventos e as nuvens, de afugentar diante de si o granizo e o raio, de conjurar as tempestades e os elementos desencadeados, pois que todas essas perniciosas influências da atmosfera provêm muito menos de coisas naturais do que da maldade desses gênios maléficos.

Clique para ouvir os sinos da igreja de Santa Maria Madalena, em Breslau, Alemanha :


Nossos pais, na hora do perigo, faziam ouvir ao Pai Celeste, ao som dos sinos, seu primeiro grito de alarme. O Senhor não permanecia muito tempo insensível à voz do seu povo.

A corda que serve para tocar o sino, essa corda que sobe e desce sem cessar, indica o trabalho do pregador, e é também imagem da nossa vida.

(Fonte: Mons. Jean-Joseph Gaume, “L’Angelus au dix-neuvième siècle”, Editions Saint-Remi, 2005)



GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

O inferno visto por Santa Francisca Romana

$
0
0
Santa Francisca Romana
“Lembra-te dos teus novíssimos e não pecarás” (Ecl. 7,40) — recomenda a Sagrada Escritura. Os novíssimos do homem são as últimas coisas que a ele ocorrerão, ou seja, a morte, o juízo particular, o Céu, o inferno, o purgatório, o fim do mundo, a ressurreição dos mortos e o juízo final.

A 9 de março a Igreja comemora a festa de uma grande santa, cuja vida foi marcada por extraordinárias visões que teve do Céu, purgatório e inferno, bem como a ação dos anjos e dos demônios neste mundo. Trata-se de Santa Francisca Romana.

Nasceu ela em 1384, da nobre família dos Brussa. Com apenas 12 anos, levava já uma vida extraordinária. Sua intenção era de não se casar, mas seu confessor aconselhou-a a não resistir às instâncias de seus pais, tendo esposado então Lourenço de Poziani.

Logo que se casou, caiu gravemente doente, sendo curada milagrosamente por uma aparição de Santo Aleixo, mártir romano. No lar, o teor de sua vida era severo e admirável. Desde o seu restabelecimento, Francisca dedicou-se largamente às obras de caridade. Junto à cunhada Vanosa, pedia esmola de porta em porta, para dar aos pobres nas vias públicas, em zonas onde não era conhecida.


Deus abençoou seu matrimônio, concedendo-lhe seis filhos. O falecimento do filho João, ainda criança, constituiu uma das alegrias de sua existência. Teve ele uma morte extraordinária, e disse ao expirar: “Vejo Santo Antônio e Santo Onofre, que vêm buscar-me para me levarem ao Céu”.

Vários fatos de transcendência pública influenciaram sua vida: a tomada de Roma pelo Rei de Nápoles, que desencadeou uma série de catástrofes sobre sua família; o exílio do Papa Eugênio IV, em virtude da guerra entre florentinos e milaneses, etc.

Ainda em casa do esposo, congregou em torno de si muitas senhoras da melhor sociedade romana, com o fim de se animarem na prática da piedade e virtudes cristãs.

Formou-se a primeira organização de senhoras que, em 1431, recebeu uma regra própria, dando origem às Oblatas de Santa Francisca Romana, cujo pequeno convento tinha o pitoresco nome de Tor de ‘Spechi.

Após a morte do marido, juntou-se a suas filhas espirituais, conduzindo-as aos hospitais e às casas dos pobres. Muitas vezes, em lugar de um remédio ou recurso insuficiente, foi uma cura súbita e miraculosa que Santa Francisca levou aos necessitados.

Deus a consolou com revelações e comunicações místicas sobre a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo e Maria Santíssima.
Tornou-se célebre por seus milagres e dons de cura. Restituiu a vista aos cegos, a palavra aos mudos, a saúde aos doentes, e libertou muitos possessos do demônio.

Santa Francisca teve o pressentimento de sua morte e preveniu seus amigos. Pedia a Deus que a levasse desta vida, pois não queria ver as novas crises que já começavam a assaltar a Santa Igreja. Caiu enferma, vindo a falecer em 1440.

Na vida dessa mística italiana, as visões ocupam um lugar saliente. A propósito do que a Santa viu sobre o inferno, o célebre escritor católico francês Ernest Hello apresenta um apanhado sucinto e sugestivo em sua obra “Physionomie des Saints”, o qual exporemos abaixo.

Inúmeros suplícios, tão variados quanto os crimes, foram mostrados à Santa em detalhes. Por exemplo, viu ela o ouro e a prata serem derretidos e derramados na boca dos avarentos. A hierarquia dos demônios, suas funções, seus tormentos, os diversos crimes aos quais presidem, foram-lhe apresentados. Viu Lúcifer, chefe e general dos orgulhosos, rei de todos os demônios e precitos, rei muito mais infeliz do que os próprios súditos.

Inferno, Beato Angelico.
O inferno é dividido em três partes: o superior, o do meio e o inferior. Lúcifer encontra-se no fundo do inferno inferior. A Lúcifer, chefe universal, subordinam-se três outros demônios, os quais exercem império sobre os demais:
1) Asmodeu, que preside os pecados da carne, e era antes da queda um Querubim;
2) Mamon, que preside os pecados da avareza, era um Trono. O dinheiro fornece, ele sozinho, uma das três grandes categorias.
3) Belzebu preside aos pecados de idolatria. Tudo que tem algo a ver com magia, espiritismo, é inspirado por Belzebu. Ele é, de um modo especial, o príncipe das trevas, e mediante as trevas ele é atormentado e atormenta suas vítimas.

Uma parte dos demônios permanece no inferno, a outra no ar, e uma terceira atua entre os homens, procurando desviá-los do certo caminho. Os que ficam no inferno dão ordens e enviam seus embaixadores; os que residem no ar agem fisicamente sobre as mudanças atmosféricas e telúricas, lançando por toda parte suas más influências, empestando o ar, física e moralmente. Seu objetivo é debilitar a alma.

Quando os demônios encarregados da Terra vêem uma alma enfraquecida pelos demônios do ar, eles a atacam no seu ponto fraco, para vencê-la mais facilmente. É o momento em que a alma não confia na Providência. Essa falta de confiança, inspirada pelos demônios do ar, prepara a alma para a queda solicitada pelos demônios da Terra.

Assim, enfraquecidos pela desconfiança, os demônios inspiram na alma o orgulho, em que ela cai tanto mais facilmente quanto mais fraca esta. Quando o orgulho aumentou sua fraqueza, vêm os demônios da carne que atacam seu espírito. Quando os demônios da carne aumentam mais ainda a fraqueza da alma, vêm os demônios que insuflam os crimes do dinheiro. E quando estes diminuíram ainda mais os recursos de sua resistência, chegam os demônios da idolatria, os quais completam e concluem o que os outros começaram.

Todos se articulam para o mal, sendo esta a lei da queda: todo pecado cometido, e do qual a alma não se arrependeu, prepara-a para outro pecado. Assim, a idolatria, a magia, o espiritismo esperam no fundo do abismo aqueles que foram escorregando de precipício em precipício.

Todas as coisas da hierarquia celeste são parodiadas na hierarquia infernal. Nenhum demônio pode tentar uma alma sem a permissão de Lúcifer.

Os demônios que estão no inferno sofrem a pena do fogo. Os que estão no ar ou na terra não sofrem atualmente tais penas, mas padecem outros suplícios terríveis, e particularmente a visão do bem que praticam os santos. O homem que faz o bem inflige aos demônios um tormento indescritível. Quando Santa Francisca era tentada, sabia, pela natureza e violência da tentação, de que altura tinha caído o anjo tentador e a que hierarquia pertencera.

Quando uma alma cai no inferno, seu demônio tentador é felicitado pelos demais. Mas quando a alma se salva, o demônio tentador recebe insulto dos outros, que o levam para Lúcifer e este lhe inflige um castigo a mais, além das torturas que já padece. Este demônio entra às vezes no corpo de animais ou homens. Ele finge ser a alma de um morto.

Quando um demônio consegue perder certa alma, após a condenação desta transforma-se em tentador de outro homem, mas torna-se mais hábil do que foi a primeira vez. Aproveita-se da experiência que a vitória lhe deu, tornando-se mais forte para perder o homem.

Santa Francisca observava um demônio em cima de alguém que estivesse em estado de pecado mortal. Confessado o pecado, via ela o mesmo demônio ao lado da pessoa. Após uma excelente confissão, o anjo mau ficava enfraquecido e a tentação não tinha mais o mesmo grau de energia.

Ao ser pronunciado santamente o nome de Jesus, Santa Francisca via os demônios do ar, da terra e do inferno inclinarem-se com sofrimentos espantosos, tanto maiores quanto mais santamente o nome de Jesus fora pronunciado.

Se o nome de Deus é pronunciado em meio a blasfêmias, os demônios ainda assim são obrigados a se inclinar, mas um certo prazer é misturado à dor causada pela homenagem que são obrigados a render.

Se o nome de Deus é blasfemado por um homem, os anjos do céu inclinam-se também, testemunhando um respeito imenso. Assim, os lábios humanos, que se movem tão facilmente e pronunciam tão levianamente o nome terrível, produzem em todos os mundos efeitos extraordinários e ecos, dos quais o homem não é capaz de compreender nem a intensidade nem a grandeza.



GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

Corpus Christi e sua solene procissão em Toledo

$
0
0
Santissimo Sacramento na procissão

Na Idade Média, o Papa Urbano IV (1195 — 1264) instituiu a festa de Corpus Christi após o portentoso milagre eucarístico de Bolsena.

Agindo assim atendeu o apelo insistente de muitas almas que ardiam de devoção pelo Ssmo. Sacramento.

Sobre como aconteceu a instituição da festa de Corpus Christi, veja embaixo: “Origem da Festividade de Corpus Christi”.

Esta festa, uma das mais solenes da Igreja, é marcada por grandes procissões eucarísticas, inclusive nos nossos tão conturbados dias de abandono da fé, em que se contraria o que a Igreja Católica ensina.

Apresentamos a seguir uma descrição por Felipe Barandiarán de uma das mais belas procissões nesta magna festa. Ela acontece todos os anos na cidade de Toledo (Espanha).

Muitos dos aspectos relatados pelo jornalista podem ser vistos no vídeo embaixo.
Todos os corpos sociais participam oficialmente

A manhã está luminosa. Subo a pé, ofegante, as empinadas encostas de Toledo.

Deixei o carro embaixo, estacionado junto ao rio Tejo, pois se é tarefa difícil circular habitualmente pela cidade, no dia de Corpus Christi torna-se impossível.

As estreitas ruas do centro histórico estão impedidas, porque a cidade está situada no alto de uma pronunciada elevação, defendida pelo próprio rio e pelas muralhas medievais.

No caminho, vou me unindo a muitos outros toledanos ou visitantes que se apressam como eu para assistir à grandiosa procissão.

Embora os ventos de vulgaridade que varrem o mundo moderno tenham desterrado o bom costume de se vestir melhor nos domingos e dias de festa, em Toledo, hoje, todos ostentam suas melhores vestes.

E não há mulher que não estreie algo. Divirto-me ao ver as pessoas, encantadas, mostrando suas novidades em matéria de vestuário.

Ainda não cheguei à Praça de Zocodover, ao alto, centro nevrálgico desta pequena e imperial cidade, quando ouço uma salva de morteiros.

Voluntárias de Lourdes
Ela indica que a Missa Pontifical terminou e que a procissão começa a sair da chamada Porta Plana da catedral.

As pessoas estão postadas ao longo de todo o percurso. Somente os participantes do cortejo — metade de Toledo — e alguns convidados puderam assistir ao ofício divino no interior do templo.

Restringindo-se às preces, imóvel, para deixar livre o caminho, a outra metade de Toledo aguarda impaciente.

A rua está salpicada de areia molhada e plantas odoríferas, e os balcões engalanados com ricos tecidos bordados, bandeiras, mantas coloridas, grinaldas, vasos e alegres cestos de flores.

Em sinal de respeito e para acolher o Santíssimo Sacramento, antigos toldos de lona branca, provenientes das confrarias de tecelões e de especialistas em sedas, cobrem as ruas, estendidos ao longo das casas.

Agora já pode ser vista, abrindo o cortejo, a cavalaria da Guarda Civil. Atrás, a banda de música desta corporação e os timbaleiros da Prefeitura.

Riquíssima custódia reservada para a procissão
Em seguida, ostentando uma vara da mesma altura da custódia do Santíssimo Sacramento, com a qual medira na véspera os espaços das ruas, para que nada impedisse o reluzimento do cortejo, vinha, vestido de negro, o mestre de cerimônias.

Segue-lhe a cruz processional do século XV, presente do Rei Afonso V de Portugal, o Africano.

Valendo-me de minha credencial de jornalista, avanço discretamente em sentido oposto ao da procissão, cujo percurso é coberto pelos cadetes da Academia de Infantaria, instituição protagonista da legendária defesa do Alcácer de Toledo, na guerra de 1936 contra o comunismo.

A procissão transcorre em duas filas paralelas, tendo ao centro os priores, capelães ou dignidades de cada irmandade, cada qual portando báculo, medalha ou algum elemento que o distingue dos restantes de seus membros, e precedidos pelo estandarte correspondente.

Passo junto à confraria dos Cultivadores de Hortelã. Logo vêm os meninos e as meninas que fizeram a Primeira Comunhão, os grupos de Apostolado Secular e da Adoração Eucarística Perpétua, mais de 20 Confrarias e Irmandades com seus pendões correspondentes, a Hospitalidade de Lourdes e as Ordens Terceiras.

Ao som de seus instrumentos, a banda de música da Prefeitura arranca lágrimas de emoção.

Continuo avançando. Quero chegar até a porta da Catedral. O espaço é exíguo. Fascina-me a maravilhosa simbiose entre cortejo e público estuante de vida, mas conservando a ordem com naturalidade.

Sucessivamente, passo pelas religiosas de vida apostólica, pelos Cavalheiros da Ordem de Malta, pelo Capítulo dos Cavalheiros Mozárabes e pelo do Santo Sepulcro, pelos Fidalgos de Illescas e os Cavalheiros de Corpus Christi, além de outros, que ostentam com galhardia suas cruzes distintivas nas capas.

Agora é a vez de passarem os seminaristas, o clero regular e secular, a Irmandade da Santa Caridade, a famosa Cruz de Mendoza, os acólitos e o Cabido Primado.

Estou felizmente diante da Catedral, junto à companhia militar perfilada para prestar honras ao Santíssimo Sacramento.

Das paredes externas do magnífico templo gótico, em cuja entrada sorri encantadora a famosa imagem de Nossa Senhora, La Virgen Blanca.

Crianças da Primeira Comunhão
Da parede pendem 48 enormes tapetes flamengos com alegorias eucarísticas, datados do século XVII e confeccionados especialmente para esta festividade.

A famosa custódia toledana, encomendada pelo Cardeal Cisneros ao grande ourives do século XVI, Henrique de Arfe, está a ponto de cruzar o limiar da Porta Plana.

Sinto, em torno de mim, a respiração contida. Um emocionante silêncio precede a custódia do Santíssimo.

Sua aparição estala numa apoteose de aplausos, afogados pelo estrondo de salvas de 21 tiros de canhão (as mesmas devidas a um rei) e o repique dos sinos.

A formação militar saúda e a banda de música interpreta com força a Marcha Real. Através da nuvem de incenso que nos envolve, o Santíssimo Sacramento avança lentamente. Deus está aqui!

A rica custódia gótica, de 183 quilos de prata e dezoito de ouro, é transportada numa carruagem florida sob a escolta dos cadetes da Academia de Infantaria.

A procissão em andamento
Atrás, na segunda parte da procissão, vêm as máximas representações: o Arcebispo-primaz de Toledo com seu séquito, as autoridades regionais e provinciais, o prefeito da cidade acompanhado de seu gabinete, e o corpo docente universitário.

Encerrando o cortejo, desfila a Companhia de Honras da Academia de Infantaria com sua bandeira e banda de música.

Diante de um pequeno palanque montado na Praça de Zocodover repleta de gente, a custódia se detém e um orador sacro pronuncia um sermão de exaltação eucarística.

Ao terminar, acompanhando a procissão de regresso à catedral, a multidão entoa com devoção o popular hino de adoração ao Santíssimo:

“Cantemos ao Amor dos amores, cantemos ao Senhor. Deus está aqui! Vinde, adoradores; adoremos a Cristo Redentor.

“Glória a Cristo Jesus! Céus e Terra, bendizei ao Senhor. Louvor e glória a Ti, ó Rei da glória; Amor para sempre a Ti, Deus de amor!”

Se o sol de Toledo ilumina de verdade, mais do que ele resplandece e ofusca, elevado na custódia, o Santíssimo ao passar pelas suas ruas.



o corporal ensanguentado está na basílica de Orvieto onde pode é visto e venerado pelos fiéis
Corporal com gotas do Preciosíssimo Sangue do milagre de Bolsena,
na basílica de Orvieto
Origem da Festividade de Corpus Christi

Em fins do século XIII surgiu em Liège, na Bélgica, um movimento eucarístico cujo centro foi a Abadia de Cornillon, fundada em 1124 pelo bispo Albero de Liège.

Este movimento deu origem a vários costumes eucarísticos, como, por exemplo, a Exposição e Bênção do Santíssimo Sacramento, o uso da campainha durante a elevação na Missa e na festa de Corpus Christi.

A festividade foi celebrada pela primeira vez em 1246, tendo sido fixada para a quinta-feira posterior à comemoração do dia da Santíssima Trindade.

O Papa Urbano IV (1195 — 1264) tinha então sua cúria em Orvieto, um pouco ao norte de Roma.

Muito próximo dessa localidade encontra-se Bolsena, onde em 1264 ocorreu o famoso Milagre de Bolsena: um sacerdote que celebrava a Santa Missa teve dúvidas de que a Consagração fosse real.

Ao partir a Hóstia, dela saiu sangue, o qual foi empapando o tecido chamado corporal. A venerável relíquia foi levada em procissão a Orvieto em 19 de junho de 1264.

Um dia, em plena Missa, ao partir a Sagrada Forma, saiu dEla sangue que empapou o corporal.
O padre celebrava mas com sérias dúvidas
sobre Presença Real de Cristo na Hóstia consagrada
quando essa começou a pingar sangue.
Hoje se conservam em Orvieto os corporais — onde o cálice e a patena se apoiam durante a Missa do milagre —, podendo-se também ver a pedra do altar de Bolsena manchada de sangue.

Movido por aquele prodígio e a pedido de vários bispos, o Santo Padre determinou que a festa de Corpus Christi se estendesse a toda a Igreja por meio da bula Transiturus, fixando-a para a quinta-feira depois da oitava de Pentecostes.

Depois, segundo alguns biógrafos, o Papa Urbano IV encomendou um Ofício — liturgia das horas — a São Boaventura e a Santo Tomás de Aquino; quando o Pontífice começou a ler em voz alta o Ofício composto pelos dois santos, foi rasgando o de sua autoria em pedaços...

Nenhum dos decretos exarados então se refere à procissão com o Santíssimo Sacramento como um ato da celebração.

Entretanto, a mesma foi dotada de indulgências pelos Papas e o Concílio de Trento enaltece esse piedoso costume.

Santo Antonio, “Arca do Testamento” e “Martelo dos Hereges”, e o milagre de tomada de Orã

$
0
0
Santo Antônio, cf. representação de Giotto ( Legenda de São Franciso - Aparição de Arles - detalhe  )
Santo Antônio, Giotto, basílica de Assis

Santo Antônio de Pádua, ou de Lisboa, Confessor e Doutor da Igreja é chamado “Arca do Testamento” e “Martelo dos Hereges”, foi um frade franciscano do século XIII.

Estando em 1950 em Assis, eu tive ocasião de me documentar a respeito de como era Santo Antônio.

E ali se mostra, na Basílica de Assis, um quadro pintado por Giotto, que passa por ser o quadro mais provavelmente representativo da pessoa de Santo Antônio.

E se trata de uma pessoa de corpo hercúleo, de pescoço taurino, forte, de expressão de fisionomia séria, de olhar imperioso e majestoso.

Sua atitude corresponde a um Doutor da Igreja que ele era.

Comprei então algumas fotografias dessa imagem.

Ao mesmo tempo, comprei uma pilha de estampas iguais que eram vendidas às pessoas que iam à igreja também.

Mas, elas representavam Santo Antônio, não de acordo com a probabilidade histórica do quadro de Giotto, mas de acordo com uma concepção que figura nas imagens comuns.


Então, um homenzinho imberbe, coradinho, com o Menino Jesus no braço, com um ar de quem não entende muito o que está fazendo com o Menino Jesus no braço.

Santo Antônio - Iconografia eivada de sentimentalismoO Menino Jesus também com uma cara de quem não entende muito o que está fazendo no braço de Santo Antônio, sorrindo os dois um para o outro como que dizendo: desculpe, aqui deve haver algum equívoco.

Nessas imagens de Santo Antônio, nada havia que falasse no Doutor da Igreja, nada que representasse o homem que era tido como o maior conhecedor do Novo e Antigo Testamento, - as Sagradas Escrituras.

Porque ele conhecia as passagens mais raras, mais excepcionais, mais ignotas de todas e tirava delas efeitos de pregação extraordinários.

E Santo Antônio, conhecido como o “Martelo dos Hereges”, como polemista, como homem que era capaz de discutir - não de "dialogar"(no sentido irenístico do termo *).

Eleera capaz de entrar em debate com os hereges e de achatá-los. Não havia ninguém como ele.

E ainda ele ficou famoso pelos milagres que completavam sua pregação e faziam com que fosse o terror dos hereges.

O verdadeiro Santo Antônio histórico é apontado pela Igreja para nosso modelo.

A imagem verdadeira desse grande santo desapareceu quase completamente. É uma figura física que nada tem a ver sobretudo com sua fisionomia moral.

Santo Antônio, além de ser o “Martelo dos Hereges” e a “Arca do Testamento”, é venerado como o Patrono das Forças Armadas.

A razão disso está em que Santo Antônio, em certa ocasião, foi objeto de um ato de devoção especial da parte de um almirante espanhol.

Uma esquadra espanhola sitiava a cidade de Orã, no norte da África, povoada de muçulmanos e não havia meio de conseguir resultado eficaz.

Insígnias militares de Santo Antônio
Então, o almirante espanhol dirigiu-se a uma imagem de Santo Antônio, colocou o chapéu de almirante sobre a imagem, deu-lhe as insígnias de comando e pediu-lhe que investisse contra Orã.

Os mouros fugiram inesperadamente. Quando interrogados, disseram que tinha estado entre eles um frade vestido com o chapéu do almirante e que tinha ameaçado Orã com o fogo de céu, e que por causa disso eles tinham achado mais prudente ir embora.

Quer dizer, este aspecto do “Martelo dos Hereges” que ao mesmo tempo incute terror aos mouros e que se apresenta a uma cidade infiel e a ameaça com o fogo do céu, todo esse aspecto foi abolido.

Aí vemos a lamentável deterioração da devoção aos santos em nossos dias.

Quer dizer, como eles já não representam, na legenda que em torno deles se criou, a verdadeira santidade.

Quem, por exemplo, comentará a respeito da vida de Santo Antônio, este fato que se deu no Rio de Janeiro e que foi o seguinte:

Santo Antônio com as insígnias de Capitão de Infantaria
S. Antônio com as insígnias de Capitão de Infantaria**
o Rio de Janeiro estava sendo cercado pelos calvinistas franceses e já estava quase completamente rendido e a cidade não tinha meios de resistir.

Os frades então tomaram a imagem de Santo Antônio, desceram com ela o morro, colocaram numa pilastra que se encontrava ali.

E a simples exibição da imagem, de um modo maravilhoso comunicou tal ardor na cidade, que grande número de jovens se alistaram, sendo possível reorganizar a resistência aos franceses, que depois de pouco tempo, foram embora.

De maneira que o Rio de Janeiro não se tornou calvinista e talvez com repercussão em toda a História da América Latina, e portanto em toda a História da Igreja, por causa dessa ação simbólica de presença maravilhosa de Santo Antônio.

Todas essas são coisas que não se dizem, não se contam, não se comentam e os senhores podem, através disso, verificar duas coisas: em primeiro lugar, como é lamentável esta torção que a vida dos santos sofreu.

Mas, por outro lado, também, como é admirável lutar para restaurar todas essas coisas e mostrar os próprios santos no seu aspecto combativo, no seu aspecto guerreiro, no seu aspecto polêmico, no seu aspecto contra-revolucionário, que a Revolução tanto gosta de esconder e de disfarçar.

(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, conferência de 12/6/65. Sem revisão do autor)
___________________

(*) O Prof. Plinio aqui se refere ao conceito irenístico do termo "diálogo", magistralmente descrito em sua obra "Diálogo e baldeação ideológica inadvertida".

(**) S. Antônio com as insígnias de Capitão de Infantaria: "Santo Antonio, cuja imagem esteve colocada na muralha do Convento, defendeu o Rio de Janeiro contra os franceses, o que lhe valeu a patente de Capitão de Infantaria". (“Santo Antônio – vida, milagres, culto”, pgs. 144-146, Frei Basílio Röwer )


GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

O fim do mundo relembrado no Canto da Sibila e no Dies Irae

$
0
0
Canto da "profecía" da Sibila na Espanha

Ainda hoje, nas catedrais e igrejas de Mallorca e Alguer, cidade da Sardenha, costuma-se entoar na Missa de Galo o Canto da Sibila. Trata-se de um drama litúrgico de melodia gregoriana.

O Canto da Sibila é uma tradição oriunda da Baixa Idade Média e tem muitas versões.

Sibila é uma personagem da mitologia grega e romana – dizia ser uma profetiza inspirada por Apolo, e que conhecia e anunciava o futuro.

De fato, houve diversas sibilas (ou adivinhas) pagãs que moravam em grutas ou perto de mananciais, com as quais consultavam os supersticiosos pagãos.

Elas falavam sempre em estado de transe, utilizando muitas anfibologias (=frases com duplo sentido) e em hexâmetros gregos que se transmitiam por escrito.

Em espanhol existe este ditado: “En brujas no se debe creer, pero que las hay, las hay” (“Nas bruxas não se deve acreditar, mas que as há, as há”). E as sibilas, por vezes iluminadas por potencias infernais, podiam dar a conhecer fatos que depois se verificavam.

Na mitologia pagã, a Sibila teria profetizado o fim do mundo. Essa profecia dizia coisas que se assemelhavam com a escatologia bíblica relativa ao fim dos tempos e ao Juízo Final.


Sibila representada na catedral de Amiens
Em pleno Império Carolíngio, um primeiro manuscrito em latim do Mosteiro de São Marcial, em Limoges (França) faz menção dela.

Evocando sempre sua remota e fantasiosa origem, o Canto da Sibila ilustrava os fiéis de que os espantosos acontecimentos que acompanharão o Fim do Mundo e o Juízo Final não são uma mera construção cristã.

Mas também é uma realidade incrustada em muitos povos pagãos, a qual até ministros do diabo anunciam por meio de seus obscuros profetas.

O nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo deu início à fase final da História humana: o Novo Testamento.

Esta fase terminará com a segunda vinda do Salvador como Rei e Juiz Universal para julgar toda a humanidade e separar os bons dos maus.

Foi para lembrar essa grande verdade que em catedrais e paróquias começou a se cantar o Canto da Sibila no Natal.

Sibila: canto na catedral de Mallorca
Essa prática piedosa teve muita aceitação no sul da Europa, em particular na Espanha, na França, na Itália e em Portugal.

Uma das versões mais famosas é a que se canta até hoje na catedral de Mallorca. O manuscrito com o texto é o mais antigo, conservado em latim, edos anos entre 1360 e 1363.

Entre 1463 e 1468, o Canto da Sibila era cantado em latim ou numa língua local por um sacerdote ou por um jovem. Hoje é por um cantor. Ele está voltando a ser cantado em muitas regiões, na Espanha notadamente.

O Canto da Sibila aproxima-se muito do conhecido hino Dies Irae (“Día da ira”), do século XIII, atribuído ao franciscano Tomás de Celano (1200-1260), amigo e biógrafo de São Francisco de Assis. Também é atribuído ao Papa São Gregório Magno e a São Bernardo de Claraval.

O Dies Irae descreve o dia do Juízo Final, com o som da trombeta convocando os mortos para comparecerem diante o trono de Deus.

Operar-se-á então a ressurreição da carne, verdade de fé que professamos no Credo. Todos os mortos hão de ressuscitar para ouvirem o justo juízo de Deus. Todos os eleitos serão salvos e reinarão eternamente no Céu. Todos os réprobos serão jogados nas chamas inextinguíveis do inferno.

Cantado nas Igrejas, o Dies Irae faz um paralelismo entre os anúncios feitos a respeito por David, profeta de Deus, e pela Sibila, profetiza dos infernos.

Dia da Ira, aquele dia
Em que os séculos se desfarão em cinzas,
Testemunham David e Sibila!


Juízo Universal no Fim do Mundo
Os dois cânticos preparam as almas para esse grande momento final da história humana em que “os Céus se enrolarão como um pergaminho”.

Nessa hora, o triunfo final do plano salvífico de Nosso Senhor ficará definitivo e sem apelação pelos séculos dos séculos.

SIBILA LATINA

Sinal do Juízo, a terra encharcar-se-á de suor.

Do céu descerá o Rei Sempiterno,
verdadeiramente presente em corpo e sangue, para julgar o mundo.

Os homens então rejeitarão as fantasias e qualquer tesouro,

o fogo vai queimar a Terra, correndo pela terra e pelo mar.

Romper-se-ão as portas do tenebroso inferno.

Mas toda a luz liberada será comunicada ao corpo dos santos.

O brilho do sol desaparecerá e as esferas do céu perderão sua alegria.

O céu ficará conturbado e o brilho da lua morrerá.

Todos os reis comparecerão perante o Tribunal do Senhor.

Fogo cairá do céu e um rio de enxofre.


Diz o católico hino Dies Irae, Dies illa

1 Dia da Ira, aquele dia em que os séculos se desfarão em cinzas, testemunham David e Sibila!

2 Quanto terror é futuro, quando o Juiz vier, para julgar a todos irrestritamente !

Juízo Final, Van-Eyck
3 A trompa esparge o poderoso som pela região dos sepulcros, convocando todos ante o Trono.

4 A morte e a natureza se aterrorizam ao ressurgir a criatura para responder ao Juiz.

5 o Livro escrito aparecerá e tudo que há no mundo será julgado.

6 Quando o Juiz se assentar o oculto se revelará, nada haverá sem castigo!

7 Que direi eu, pobre miserável? A que Paráclito rogarei, quando só os justos estão seguros ?

8 Rei de tremenda Majestade, que ao salvar salva pela Graça, salva-me, fonte Piedosa.

9 Recordai-vos, piedoso Jesus, de que sou a causa de Vossa Via; não me percais nesse dia.

10 Resgatando-me, sentistes lassidão, me redimistes sofrendo a Cruz; que tanto trabalho não tenha sido em vão.

11 Juiz Justo da Vingança Divina, dai-me a remissão dos meus pecados, antes do dia Final.

12 Clamo, como condenado, a culpa enrubesce meu semblante suplico a Vós, ó Deus!

13 Ao que perdoou a Madalena, e ouviu à súplica do ladrão, dai-me também esperança.

14 Minha oração é indigna, mas, pela Vossa Bondade, não me deixeis perecer cremado no Fogo Eterno.

15 Colocai-me com as ovelhas. Separai-me dos cabritos. Ponde-me à Vossa direita;

16 Condenai os malditos, lançai-os nas flamas famintas, chamai-me aos benditos.

17 Oro-Vos, rogo-Vos de joelhos, com o coração contrito em cinzas, cuidai do meu fim.

18 Lacrimoso aquele dia no qual, das cinzas, ressurgirá, para ser julgado, o homem réu.

19 Perdoai-os, Senhor Deus, Piedoso Senhor Jesus, dai-lhes descanso eterno, Amém!


Vídeo: o canto da Sibila





Vídeo: Dies Irae, dies illa (gregoriano)





Se seu email não visualiza corretamente a partitura embaixo CLIQUE AQUI

A Prosa parisiense da Dedicação da catedral de Notre Dame

$
0
0
Dedicação de uma igreja. Iluminura medieval.
Dedicação de uma igreja. Iluminura medieval.

A consagração de uma igreja é o momento mais importante de sua história.

O templo que até então não era mais que um prédio, de maior ou menor beleza segundo os casos e de um valor apenas material, em virtude da consagração litúrgica se transforma no local sagrado onde Deus passa a morar.

Pela ceremonia da dedicação Deus estabelece uma Aliança com o templo, da maneira análoga à Aliança que fez com a humanidade se fazendo homem.

O nome de dedicação vem do fato do templo ser consagrado, ou dedicado, a um titular, quer dizer, ao próprio Deus, a Nosso Senhor, a Nossa Senhora, a um anjo ou a um santo.

A festa da dedicação todo ano relembra esse acontecimento fundador. A igreja toda canta e exulta suas núpcias com Cristo Nuestro Señor, seu Rei, Pai e Esposo.

No século XII, Adam de Saint-Victor (1112 – 1192) concebeu um hino excecional para essa festa. La “Prose de la Dédicace”, ou “Prosa da dedicação” da catedral Notre Dame de Paris se espalhou rápidamente pela Europa toda e é cantada até nossos días, malgrado a cacofonía que foi atropelando muitas cerminônias.


Adam de Saint-Victor foi o principal autor da escola de música de Paris que ele renovou aperfeiçoando e lhe conferindo uma riqueza espiritual sublinhada pelo desenvolvimento musical.

O repertório de suas obras passou a ser cantado em toda a Europa Ocidental, já no século XIII desde Palermo no extremo sul da Itália, passando por Zagreb no mundo eslavo, até Aquisgrão na Alemanha ou Dublin na Irlanda no extremo norte.

Dedicação de uma igreja.  Biblioteca Univ. de Tecnologia Sydney, manuscrito MS 03
Dedicação de uma igreja.
Biblioteca Univ. de Tecnologia Sydney, manuscrito MS 03
Adam de Saint-Victor fez parte da escola parisiense dos “vitorinos” que desenvolveu a beleza das obras criadas como um caminho privilegiado para chegar até Deus, escola obviamente contraditada pelo materialismo miserabilista.

De ali que a pompa, o resplandor e o maravilhamento fossem estradas reais, segundo a conceituada escola vitorina, para a formacao e salvacao das almas, para o conhecimeto e a adoracao de Deus, de Nossa Senhora, dos Anjos e dos Santos.

Em sentido contrário a procura do quebrado, depauperado, despojado de beleza culposamente, aparecia como o meio e a consequência de se afastar de Deus e procurar o pecado e seu mentor, Lucifer.

La “Prose de la Dédicace” passou por melhoras em séculos pasados que apefeicoaram sua tradicional beleza.

A poesía de Adam de Saint-Victor contem verdadeiros tesouros teológicos pela visão da Igreja que desenvolve.

Adam de Saint-Victor morreu na abadia que lhe confere o nome – Saint-Victor – que ficava sobre a montanha de Santa Genoveva. Nessa “montanha” a poucos quarteirões de Notre Dame de Paris, do lado do Quartier Latin, repousam também os restos da padroeira da cidade Santa Genoveva, na igreja de Saint-Etienne du Mont.

Partitura da Prosa da Dedicação parisiense
Partitura da Prosa da Dedicação parisiense
O furor sacrílego e soez da Revolucao Francesa querendo sempre achincalhar o catolicismo seu culto, seus templos e sua liturgia, arrasou o mosteiro de Saint-Victor e o santuário medieval consagrado a Santa Genoveva.

Mas, as reliquias da santa foram salvas e o prestigio de Adam de Santi-Victor continua até hoje como sendo o melhor e maior poeta latino litúrgico da Idade Média.

Segundo muitos, a inspiração de Adam teve parte nos magníficos hinos de Santo Tomás de Aquino ao Santíssimo Sacramento.

A letra desta “Prosa da dedicação” contém todo o conceito católico da festa, com a candura, a força e a beleza das almas medievais.

Ela diz:

Ó filhas de Jerusalém e Sião, habitantes das santas moradias do Céu, cantai juntas uma canção de alegria. Aleluia!

Neste dia em que Jesus Cristo, o modelo de justiça, escolhe como esposa a igreja, nossa mãe, ele a tira do abismo de miséria em que estava mergulhada.

É do lado aberto do Homem-Deus cravado na cruz que o precioso sangue e a água misteriosa fluem da fonte sagrada que lhe foram dadas para lavá-la e santificá-la.

A formação da Igreja de Jesus Cristo foi prefigurada pela de Eva, a mãe comum da humanidade, que foi tirada de uma costela de nosso primeiro pai Adão.

Eva passou a morte para seus filhos, mas a Igreja é uma mãe que dá a vida a seu povo: para ele é a porta de salvação, o seu refúgio e seu forte apoio.

É o barco em que navegamos com segurança através dos recifes do século, o aprisco onde permanecemos imunes aos ataques do inimigo: a coluna da verdade sobre a qual nos apoiamos como sobre um fundamento inabalável.

Quais devem ser nossa alegria e gratidão nesta cerimónia augusta, em que nós comemoramos a união de Cristo com sua Igreja, santa união pela qual se opera a grande obra de nossa salvação!

Por esta união misteriosa os justos entram na posse da recompensa eterna, os pecadores recebem o perdão de seus crimes, e até os anjos sentem crescer sua alegria.

Essas maravilhas são o resultado da sabedoria suprema de Deus, pela única razão de sua misericórdia, que previu sua efetivação desde toda a eternidade.

Que Jesus Cristo, nosso Salvador, de quem nos tornamos filhos pela união que Ele contraiu com a Igreja nossa mãe, nós conceda degustar as verdadeiras delícias e participar das alegrias eternas do Céu dos eleitos. Amém.





Texto em latim. No vídeo acima, o coro canta algumas linhas só:
JERUSALEM et Sion fíliæ, / Cœtus omnis fidélis cúriæ, / Melos pangant jugis lætítiæ. / Allelúia.
CHRISTUS enim norma justítiæ / Matrem nostram despónsat hódie, / Quam de lacu traxit misériæ / Ecclésiam.
HANC sánguinis et aquæ múnere, / Dum pénderet in crucis árbore, / De próprio prodúxit látere / Deus homo.
FORMARETUR ut sic Ecclésia, / Figurátur in prima fémina, / Quæ de costis Adæ est édita / Mater Eva.
EVA fuit novérca pósteris ; / Hæc est mater elécti géneris, / Vitæ portus, ásylum míseris, / Et tutéla.
HÆC est cymba qua tuti véhimur ; / Hoc ovíle quo tecti cóndimur ; / Hæc cólumna, qua firmi nítimur / Veritátis.
O sólemnis festum lætítiæ, / Quo únitur Christus Ecclésiæ, / In quo nostræ salútis núptiæ / Celebrántur.
JUSTIS inde solvúntur præmia, / Lapsis autem donátur vénia, / Et sanctórum augéntur gáudia / Angelórum.
AB æterno fons sapiéntiæ, / Intúitu solíus grátiæ, / Sic prævídit in rerum série / Hæc futúra.
CHRISTUS jungens nos suis núptiis, / Recréatos veris delíciis, / Intéresse fáciat gáudiis / Electórum. Amen.



GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

O Santo Rosário devoção que Nossa Senhora deu para o triunfo da cruzada contra os cátaros

$
0
0
Nossa Senhora da o terço a São Domingos de Gusmão, Orações e milagres medievais
Nossa Senhora entrega o terço a São Domingos de Gusmão

O Rosário é uma série de orações, acompanhadas de meditação em honra da Santíssima Virgem.

Chama-se Rosário porque é como uma coroa de rosas que se oferece a Maria. A oração principal do Rosário é a Ave Maria.

O Rosário tem por autor S. Domingos, fundador da Ordem dos Pregadores ou Dominicanos.

O uso de honrar a Maria rezando repetidas vezes o Padre Nosso, a Ave Maria e o Glória Patri foi inaugurada no século V por Santa Brígida, abadessa de um mosteiro de beneditinas na Irlanda.

Para facilitar tal prática, sujeitando a uma ordem invariável as orações que a compunham, Santa Brígida serviu-se de contas de diferentes tamanhos, enfileiradas em forma de coroa.

São Domingos, aperfeiçoando esse terço de acordo com as indicações de Maria, formou o Rosário tal qual hoje existe.

No século XV, tendo decaído o uso do Rosário, pela desgraça dos tempos, Deus suscitou o Bem-aventurado Alain de la Roche, dominicano bretão, para restabelecê-lo em todo o seu brilho.

Segundo vários documentos pontifícios, S. Domingos teve sobre o Rosário uma revelação particular de Maria, por volta do ano 1206.

Nossa Senhora da o terço a São Domingos de Gusmão, Orações e milagres medievais
Nossa Senhora entrega o terço a São Domingos de Gusmão
Os albigenses eram assim chamados porque eram numerosíssimos na parte da província do Languedoc chamada Albi.

Formavam uma seita na qual se praticavam monstruosidades morais.

Admitiam dois princípios, o bem e o mal, não acreditavam nas Escrituras, nem no batismo das crianças, nem no matrimônio; não queriam nem templos, nem bispos nem padres, e negavam a verdade do sacrifício da Missa.

Seus costumes eram corruptos, e sua ignorância extrema.

Animados pelo Conde de Tolosa e por grande número de nobres, os albigenses quebravam as cruzes, queimavam as igrejas, matavam sacerdotes e revoltavam-se contra qualquer autoridade eclesiástica.

Para conter essa torrente devastadora, a Igreja tratou de converter à Fé essas almas transviadas e mandou-lhes missionários, entre outros Dom Diego, Bispo de Osma (na Velha Castela), e seu arcebispo Domingos de Gusmão, tão célebre depois sob o nome de São Domingos.

Esses homens apostólicos puseram mãos à obra, com ardor, mas seu zelo teve pouco êxito. Aflitíssimo pela esterilidade de seus esforços, Domingos dirigiu-se à Mãe de Deus, que tinha o poder de destruir as heresias.

Suplicou, conjurou até com lágrimas, para que esta boa Mãe o auxiliasse e lhe inspirasse o meio de vencer a obstinação desses fanáticos.

Nossa Senhora do Rosário, na igreja de San Domenico, Bolonha
Maria ouviu a oração de seu servo e lhe apareceu. De acordo com a tradição, a aparição se deu em Castelnauday, numa aldeia chamada Prouille.

Ela o consolou e lhe disse: "Meu filho Domingos, aprenda isto: o meio empregado pela Santíssima Trindade para reformar o mundo foi a Saudação Angélica.

Portanto, se quiser converter esses corações empedernidos, pregue-a segundo o modo que vou ensinar-lhe". Indicou então a organização do Rosário, composto de 3 terços, ou 15 dezenas, a cada qual corresponde um mistério de nossa Fé.

Com esta poderosíssima arma Domingos pregou outra vez, com novo ardor. Ensinou a Fé, propagou a devoção do Rosário, e os frutos da conversão se multiplicaram com prodigiosa rapidez.

Os progressos dessa devoção foram tais, que cinqüenta anos depois da aparição de Maria milhares de hereges tinham voltado para o seio da Igreja e milhares de pecadores tinham abraçado a penitência.

Durante a sua vida, o próprio São Domingos converteu mais de cem mil almas, segundo dizem autores do tempo.

Tal é a origem da preciosa devoção do Rosário, baseada em tantos testemunhos, autorizada por tantos milagres, honrada pela Igreja com tantos privilégios e continuamente aprovada pelo Céu com um sem número de graças, que Deus gosta de distribuir entre os que a praticam.



GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

“Lembrai-vos”: a oração de São Bernardo que comove o coração de Nossa Senhora

$
0
0
Madonna Lochis, C.Crivelli, Bergamo, Itália
Madonna Lochis, C.Crivelli, Bergamo, Itália
O Lembrai-vosé uma oração a Nossa Senhora, também conhecida como “Memorare” (do nome em latim) ou como “Oração de São Bernardo” (a quem é atribuída a autoria).

No século XVI, o Pe. Claude Bernard divulgou extraordinariamente esta piedossísima oração.

A oração em Português:
Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria,
que nunca se ouviu dizer
que algum daqueles que têm recorrido à vossa proteção,
implorado a vossa assistência,
e reclamado o vosso socorro,
fosse por Vós desamparado.
Animado eu, pois, com igual confiança,
a Vós, o Virgem entre todas singular,
como a Mãe recorro, de Vós me valho e,
gemendo sobre o peso dos meus pecados,
me prostro a vossos pés.
Não rejeiteis as minhas súplicas,
ó Mãe do Verbo de Deus humanado,
mas dignai-Vos de as ouvir propícia,
e de me alcançar o que vos rogo.
Amén.

Nossa Senhora de Avioth, França
Nossa Senhora de Avioth, França
Em Latim
MEMORARE, O piissima Virgo Maria,
non esse auditum a saeculo,
quemquam ad tua currentem praesidia,
tua implorantem auxilia,
tua petentem suffragia,
esse derelictum.
Ego tali animatus confidentia,
ad te, Virgo Virginum, Mater, curro, ad te venio,
coram te gemens peccator assisto.
Noli, Mater Verbi, verba mea despicere;
sed audi propitia et exaudi.
Amen.

Na lindíssima oração do “Memorare” cada palavra tem sua aplicação.

“Lembrai-Vos, ó Piíssima Virgem Maria...”, o que quer dizer aí, “Piíssima”?

Piedosa, o superlativo é piedosíssima. Mas a gente resume dizendo “piíssima”.

Mas “piedosa” aqui, não quer dizer pessoa que reza muito. Quer dizer a pessoa que tem muita piedade, muita compaixão dos outros.

Nossa Senhora com o Menino Jesus. Igreja de Todos os Santos, Londres
Nossa Senhora com o Menino Jesus. Igreja de Todos os Santos, Londres
Poderia dizer portanto, “Lembrai-Vos, ó Compassivíssima Virgem Maria”, que tem muita compaixão, que perdoa muito, etc., etc.

“... que nunca se ouviu dizer ...”. Notem bem “nunca se ouviu dizer”. “Nunca” quer dizer em nenhum tempo e em nenhum lugar de toda a terra.

“... que tendo alguém recorrido a Vossa proteção ...”, quer dizer tendo alguém pedido que Vós a protegeis.

“ ... implorado a vossa assistência ...”, quer dizer implorado que o acompanheis, que olheis para ele, que o sigais.

“... e reclamado o Vosso socorro ...”, é evidente o sentido.

“... fosse por Vós desamparado ...”, é uma linda proclamação.

Então, em nenhuma época do mundo, a Virgem Maria deixou de atender àqueles que pedem a Ela. Em nenhum caso, em nenhuma circunstância, deixaram de ser atendidos.

Então, é também conosco, se um de nós tem a infelicidade de pecar. Pior ainda, se um de nós tem a infelicidade de um vício, de uma atitude moral ou imoral, que se repete.

Não faz mal, reze e peça, reze e peça, porque no fundo Nossa Senhora acabará tendo pena.

“... Animado, eu pois, com tal confiança ...”, quer dizer, por este motivo.

“... a Vós, ó Virgem entre todas singular ...”, quer dizer, “Vós que sois mais virgem do que todas as virgens, a Santa Virgem das virgens”.

“ ... ó Vós entre todas singular, como Mãe recorro e de Vós me valho ...”, quer dizer, “Vós sois minha Mãe, Vós sois Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas Vós sois Mãe de todos os homens.

Nossa Senhora do Carmo, Portugal
Nossa Senhora do Carmo, Portugal
E sendo Mãe de todos os homens, sois minha Mãe! Eu serei o último dos homens, mas Vós sois a mais alta e a mais excelsa de todas as mães.

E vossa compaixão vale mais do que merecem todos os meus pecados. Se meus pecados são um abismo, a vossa compaixão é uma montanha muito maior do que esse abismo.”

“... e gemendo sobre o peso dos meus pecados, me prosto aos vossos pés...” A pessoa então, é um pecador que geme. Pecou tanto que ele está gemendo sobre os pesos de seus pecados, mas se põe aos pés da Virgem Santíssima.

“... Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Verbo de Deus humanado...”, quer dizer, “Mãe, ó Vós que sois a Mãe de Jesus Cristo, o Verbo que se fez homem, não desprezeis a minha súplica.”

Quer dizer, eu sei que dá para desprezar minhas súplicas porque por si mesmas não são nada. Mas, não desprezeis essas súplicas porque eu sou vosso filho. E um filho pode pedir isso a uma mãe.

O coração da mãe está sempre aberto para perdoar, para amar, para afagar, etc., etc. Sobretudo Nossa Senhora, que é a Mãe das mães, a perfeição das perfeições.

“... mas dignai-Vos de ouvir propícia...”, quer dizer, dignai de ouvir. “Propícia” quer dizer favoravelmente, com boa vontade, com boa disposição.

“... e alcançar o que Vos rogo. Assim seja.”, e alcançai-me aquilo o que eu estou Vos pedindo. É a emenda de um defeito, emenda de um vício, aquisição de uma virtude, etc., etc.

Nossa Senhora da Flor de Lys
Nossa Senhora da Flor de Lys
Considerando tudo quanto a Igreja ensina sobre Nossa Senhora, temos todos os motivos para achar que Ela vai acabar obtendo. E portanto, nós pedimos a Ela, com muito empenho, com muito ardor.

Numa canção litúrgica muito bonita e piedosa, Nossa Senhora é chamada: — em latim: Montanha de todas as virtudesMaria mons. Ela é a fonte de todas as graças: Maria fons. E por fim, Maria pons: Ela é a ponte por cima de todos os abismos.

“Nós vos pedimos, Senhora, quando pensamos que Vós sois tudo quanto sois, que nós não somos senão aquilo que nós somos.

“Mas que nunca, nunca, nunca, Vós deixareis de olhar com boa vontade para o filho que pede a Vossa assistência. Nós pedimos com insistência, tende pena de nós e acabai arrancando dos nossos pecados.”

Nós seremos atendidos!

Fonte: Plinio Corrêa de Oliveira, palestra em 21/9/91. Texto sem revisão do autor.



GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

Alma Redemptoris Mater: hino que resume os significados do nome de Maria

$
0
0
Nossa Senhora, século XIII, Museu de Cluny, Paris
Nossa Senhora, século XIII, Museu de Cluny, Paris
Encontramos contidos os vários significados do nome de Maria no hino medieval Alma Redemptoris Mater.

Ele foi composto pelo bem-aventurado Hermann de Reichenau (1013-1054), também chamado Hermannus Contractus, Hermannus Augiensis ou Herman o Aleijado, como nosso Aleijadinho, aliás.

Além de músico e compositor, ele foi professor, matemático e astrônomo.

Hermannus foi paralítico desde criança, tendo nascido com muitos defeitos físicos.

Os médicos modernos acham que ele sofria de esclerose amiotrófica lateral ou alguma atrofia da coluna vertebral.

Por isso tinha enorme dificuldade para falar e movimentar-se.

Os pais não quiseram saber dele e depositaram-no num mosteiro beneditino para não vê-lo mais.

Os monges o receberam e educaram. E o menino aleijado começou a mostrar um admirável interesse pela teologia e em geral por todas as coisas que via e ouvia.

Ele passou quase toda sua vida na abadia de Reichenau, numa ilha do Lago de Constança, na Suíça.

E revelou-se surpreendente compositor musical. Entre suas obras que restaram figura um oficio completo para Santa Afra e outro para São Wolfgang.

Astrolábio
Ele escreveu ainda um tratado sobre a ciência da música, diversos tratados sobre a geometria, aritmética e astronomia.

Inclusive deixou as instruções para se fabricar o astrolábio, uma notável invenção da Antiguidade que serve para medir a posição dos astros.

Porém, no caos gerado pela queda do Império Romano tinha-se perdido a tecnologia.

O beato Herrmann, com base nos livros, recuperou o decisivo instrumento para a navegação.

Como historiador, escreveu uma detalhada crônica desde o nascimento de Cristo até seus dias, tendo sido o primeiro grande compilador dos fatos do primeiro milênio da história humana na era cristã.

Quando tinha 20 anos, Hermann foi aceito como monge, abrindo uma exceção à Regra que fechava as portas aos estropiados.

Dominou muitas línguas, inclusive o árabe, o grego e o latim.

No fim de sua vida, ficou cego.

Beato Hermanno de Reichenau
Beato Hermann de Reichenau, o Estropiado
E quando se diria que estava tudo acabado, manifestou-se a verdadeira fonte de tanta sabedoria: Herrmann era um grande devoto de Nossa Senhora.

Ele começou a escrever para Ela hinos que marcaram os séculos até hoje e talvez até o fim dos tempos.

O mais famoso é o Salve Rainha que, com alguns acréscimos do beato Dom Adhemar de Monteuil e de São Bernardo, é bem conhecido por todos nós. LEIA MAIS SOBRE A HISTÓRIA DA SALVE RAINHA

Herman morreu em 24 de setembro de 1054, com apenas 40 anos, no mosteiro beneditino onde outrora fora abandonado pelos pais.

O Bem-aventurado Papa Pio IX o beatificou em 1863. Ele usufrui hoje da glória eterna, está nos altares e contempla eternamente a sua amada Nossa Senhora.

Um de seus hinos a Nossa Senhora é o Alma Redemptoris Mater (Santa Mãe do Redentor) que a Igreja canta habitualmente nos ofícios noturnos, especialmente no Natal e no Advento até a festa da Purificação da Virgem Maria.

Porém, esse hino pode ser cantado em qualquer ocasião do ano.

O Alma Redemptoris Mater glorifica a Maria enquanto Mãe de Jesus, Redentor dos homens. E refere-se a Ela como a “Estrela do Mar”, que é um dos significados de seu nome.

O hino reconhece a virgindade perpétua de Nossa Senhora vários séculos antes da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, apresentando-A como a defensora do povo católico.

Eis sua letra:

Santa Mãe do Redentor, porta do céu,
estrela do mar, socorrei o povo cristão
que procura levantar-se do abismo da culpa.
Vós que, acolhendo a saudação do Anjo,
gerastes, com admiração da natureza,
o vosso santo Criador,
ó sempre Virgem Maria,
tende misericórdia dos pecadores.

E em latim, como se canta no vídeo :

Alma Redemptóris Mater,
quae pérvia caéli pórta mánes,
et stélla máris,
succúrre cadénti
súrgere qui cúrat pópulo:
Tu quae genuísti, natúra miránte,
túum sánctum Genitórem:
Virgo prius ac postérius,
Gabriélis ab óre
súmens íllud Ave,
peccatórum miserére


Video: Alma Redemptoris Mater e imagens de Nossa Senhora





GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

Os vários sentidos do Santíssimo Nome de Maria e a vitória contra os muçulmanos

$
0
0
Imaculada Conceição, no mosteiro das dominicanas de Caleruega, Espanha
Imaculada Conceição, no mosteiro das dominicanas de Caleruega, Espanha
No dia 12 de setembro é a festa do Santíssimo Nome da Bem-aventurada Virgem Maria.

Sua celebração foi estendida à Igreja Universal pelo Bem-aventurado Inocêncio XI em lembrança da insigne vitória das armas católicas sobre os turcos que sitiavam Viena, capital do Sacro Império Romano Alemão, na Áustria.

A famosa vitória aconteceu em 1683, mediante a proteção da mesma virgem, e através do gládio do famoso João Sobieski, Rei da Polônia.

A libertação de Viena teve lances milagrosos, e para agradecer por essa vitória o Bem-aventurado Papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santíssimo Nome de Maria.

Em seu famosíssimo comentário L’Année Liturgique, D. Guéranger reproduz uma citação do Santo Alberto Magno, professor de São Tomás de Aquino, sobre os vários sentidos do nome de Maria.

O nome de Maria, diz Santo Alberto Grande, tem quatro sentidos.

Ele significa Iluminação, Estrela do Mar, Senhora, Mar Amargo.

A variedade de sentidos do nome de Maria está ligada a uma peculiaridade da língua hebraica em que uma mesma palavra tem dois sentidos, ora afins, ora bastante diversos.

Enquanto Iluminadora, Nossa Senhora é a Virgem Imaculada, pois sombra alguma do pecado jamais maculou seu Santíssimo Nome.

A mulher revestida de Sol, aquela cuja gloriosa vida iluminou toda a Igreja, Aquela enfim, que deu ao mundo a verdadeira luz, a luz da vida, é a Iluminadora.

Nossa Senhora é a verdadeira luz, a luz que ilumina por natureza. Por isso recebeu o nome de Maria.

Ela é a Virgem Imaculada que não tem mancha e possui uma alma sumamente luminosa porque não tem e nunca teve nenhuma sombra sequer de pecado.

Nossa Senhora, Alemanha
Nossa Senhora, Alemanha
Ela é a mulher revestida de Sol que São João viu numa das visões do Apocalipse, cujos vestidos brilhavam como o astro rei.

Acresce que sua vida iluminou toda a Igreja Católica e Ela deu ao mundo a única luz verdadeira que é Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nossa Senhora é uma luz também num sentido especial da palavra: é a nossa esperança, a nossa alegria na vida e a solução para todos os problemas.

Portanto, para nós é uma luz que brilha nas trevas.

A liturgia católica saúda Nossa Senhora como Estrela do Mar, num hino tão poético e popular como o Ave Maris Stella.

E também se saúda Nossa Senhora com este belo nome na antífona Alma Redemptoris Mater – ó doce Mãe do Redentor –, do Advento no tempo do Natal.

Sabemos que a Estrela do Mar é a Estrela Polar, a mais brilhante e mais alta das estrelas e ponto de referência para os navegantes.

O Nome de Maria também significa Mar Amargo em virtude das palavras do profeta Simeão, que ao vê-la levando o Menino Jesus ao Templo para a circuncisão, disse a Ela: “Quanto a Ti, uma espada há de atravessar-te a alma. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações” (Lc. 2, 34-35).

Esse nome também nos convida a participar das dores de Nossa Senhora e chorar amargamente nossos pecados.

Por fim, o nome de “Senhora” não quer dizer uma mulher comum, mas uma mulher que tem distinção, relevo e respeitabilidade especial.

Nossa Senhora do Círio de Nazaré, Belém, Pará
Nossa Senhora do Círio de Nazaré, Belém, Pará
O nome “Sinhá” antigo não dá bem o significado do termo francês “Dame” usado no original em francês de D. Guéranger, assim como em “Notre Dame”. Pois “sinhá” é a dona que manda porque ela é proprietária do escravo.

Entretanto, “sinhá” tem um lado caríssimo para aqueles que praticam seriamente a sagrada escravidão espiritual ensinada por São Luís Grignion de Montfort.

Por meio dessa Sagrada Escravidão nós nos tornamos escravos de amor de Nossa Senhora, que é nossa Medianeira junto a Deus.

Nosso Senhor então saúda Nossa Senhora como a nossa Dona, que nos domina, mas que ao mesmo tempo é nossa Mãe e nos ama particularmente porque somos escravos d’Ela.

E por sermos escravos de amor nós nos tornamos arqui-filhos d’Ela.

Este é exatamente o título mais grato para reverenciarem a Nossa Senhora aqueles que fizeram a tão louvada consagração de São Luís Grignion de Montfort.

Ela é a Proprietária, a Dona e a Senhora dos escravos de amor.



GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

A milagrosa origem da devoção a Nossa Senhora da Lapa

$
0
0
Nossa Senhora da Lapa, Arcos de Valdevez, Portugal

A história da devoção a Nossa Senhora da Lapa iniciou-se em meados do ano de 982 em Portugal.

Naquela data o general mouro Almançor, em uma de suas campanhas militares atacou o Convento de Sisimiro, situado na localidade de Quintela, Sernancelhe.

O cruel mouro martirizou parte das religiosas que ali se encontravam.

As religiosas que teriam conseguido escapar do general se abrigaram numa lapa (gruta), levando consigo uma imagem de Nossa Senhora.

A imagem ficou ali por cerca de quinhentos anos e foi sendo esquecida.

Em 1498, uma jovem pastora chamada Joana, menina ainda e muda de nascença, ao pastorear as ovelhas pelos arredores da gruta, teria resolvido adentrar e teria encontrado a imagem, pequena e formosa.

Porém a inocência da menina teria interpretado o achado como uma boneca e a teria colocado na cesta onde guardava seus pertences e seu lanche.

Durante o pastoreio, a menina enfeitava a cesta como podia, procurando as mais lindas flores para orná-la.

Embora as ovelhas se encontrassem sempre no mesmo lugar, estavam sempre alimentadas e tranquilas, o que despertou comentários entre algumas pessoas.

Gruta onde a menina muda achou a imagem de Nossa Senhora da Lapa, Sernancelhe, Portugal
Estes comentários chegaram aos ouvidos da mãe de Joana, que, já enervada com as teimosias da menina, num momento de irritação, pegou a santa imagem e atirou-a ao fogo.

Ao ver isso, a menina soltou um grito: "Não! Minha mãe! É Nossa Senhora! O que fez?".

Sua fala desprendeu-se instantaneamente de forma irreversível e sua mãe, neste momento, ficou com o braço paralisado.

Ainda em transe, a menina e a mãe oraram e o braço paralisado ficou curado.

Santuário de Nossa Senhora da Lapa, Sernancelhe, Portugal

A comunidade, então, reconhecendo o valor da santa e milagrosa imagem, sob a orientação da menina Joana, construíram uma capela para abrigá-la.

E a imagem ali ficou, mesmo após as diversas tentativas do clero de levá-la para a igreja paroquial, de onde sempre desaparecia de modo misterioso.

O seu culto acabou por difundir-se em Portugal e foi levado para o Brasil pelos colonizadores portugueses, onde é venerada em muitas igrejas.



GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

O milagre eucarístico de Bolsena

$
0
0
Altar com as relíquias menores do milagre eucarístico de Bolsena
Altar com as relíquias menores do milagre eucarístico de Bolsena

Na Basílica de Santa Cristina em Bolsena, Itália, conserva-se zelosamente há sete séculos, as relíquias menores do milagre eucarístico de Bolsena.

Dizemos as ‘menores’ pois as ‘maiores’ estão na catedral de Orvieto.

Trata-se de uma das pedras sagradas onde ainda são bem perceptíveis grumos do precioso Sangue de Nosso Redentor.

O fato miraculoso aconteceu em 1264 e está ligado a dois dos mais poderosos expoentes do pensamento teológico universal: São Tomás de Aquino e São Boaventura.

Marcas do Preciosíssimo Sangue na pedra do altar e no corporal. Milagre eucarístico de Bolsena.Um sacerdote de Praga era atormentado por dúvidas acerca da presença real de Jesus Cristo na Eucaristia.

Enquanto dividia a Hóstia consagrada na celebração da Missa, ele viu o corporal cheio de sangre.

O sangre brotava das Sagradas Espécies, sobre o altar onde ele celebrava, sob o baldaquino de mármore lombardo da basílica.

Espantado e atordoado diante de tão grande prodígio, concebeu a dúvida de se haveria de pôr fim ou prosseguir com a Missa.

Achando que seria melhor ocultar o fato acontecido aos fiéis presentes e procurando ajuda e explicação da autoridade decidiu suspender a Santa Missa.

O milagre de Bolsena, Simone Martini.
O milagre de Bolsena, Simone Martini.
Ele recolheu as sagradas espécies nos panos sagrados e correu para a sacristia, sem reparar que gotas do Preciosíssimo Sangue iam caindo sobre o mármore do chão.

Naquela época, o Ministro General dos Franciscanos era São Boaventura de Bagnorea, cidade natal do Santo que fica a poucos quilómetros de Bolsena.

O Santo foi encarregado pelo Papa Urbano IV de presidir a comissão de teólogos que devia controlar a veracidade dos fatos.

A comissão confirmou a verdade do milagre e o Papa ordenou a Dom Jaime Maltraga, bispo de Bolsena, levar até Orvieto, onde o Papa estava residindo, o sagrado corporal, o purificador e os linhos manchados de sangue.

O Papa acompanhado pela sua Corte, foi ao encontro das divinas relíquias que recebeu sobre a ponte Rivochiero e as conduziu em suas próprias mãos até Orvieto.



(Fonte: “L'Osservatore Romano”, 21 de maio de 1961, pág. 6. Pe. Deodato Carbajo, O.F.M.).


MILAGRES EUCARISTICOS - VEJA MAIS EM:


Video: O milagre eucarístico de Bolsena





GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOSVoltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

Os milagres da caridade: sublime equilíbrio da Igreja ante a miséria e a doença

$
0
0
Santa Isabel de Hungría

(...) Contudo, os leprosos continuavam sempre a ser o objeto de sua predileção (de Santa Isabel de Hungria) e de algum modo até de sua inveja, pois (a lepra) era, entre todas as misérias humanas, aquela que melhor podia desapegar suas vítimas da vida.

Frei Gérard, Provincial dos franciscanos da Alemanha, que era, depois de mestre Conrad, o confidente mais íntimo de seus piedosos pensamentos, vindo um dia visitá-la, ela pôs-se a falar longamente sobre a santa pobreza.

Pelo fim da conversa exclamou:

“Ah!, meu Pai, o que eu quereria antes de tudo e do fundo do meu coração, seria ser tratada em todas as coisas como uma leprosa qualquer. Quisera que se fizesse para mim, como se faz para essa pobre gente, uma pequena choupana de palha e feno, e que se pendurasse diante da porta um pano, para prevenir os transeuntes, e uma caixa, para que nela se pudesse colocar alguma esmola”. 

Com essas palavras, perdeu o conhecimento e ficou numa espécie de êxtase, durante o qual o Padre Provincial, que a sustentava, ouviu-a cantar hinos sacros; depois disto voltou a si.

Seja-nos permitido, para explicar essas prodigiosas palavras de nossa santa, introduzir aqui em nossa narração alguns detalhes sobre o modo pelo qual a lepra e os desafortunados por ela atingidos, foram considerados durante os séculos católicos.

Naqueles tempos de fé universal, a Religião podia lutar de frente contra todos os males da sociedade, da qual ela era a soberana absoluta.

Àquela triste miséria suprema a Igreja opunha todas as mitigações que a fé e a piedade sabem gerar nas almas cristãs. Não podendo extinguir os deploráveis resultados materiais do mal, ela sabia pelo menos acabar com a reprovação moral que podia prender-se àquelas infelizes vitimas.

Ela as revestia de uma espécie de sagração piedosa e as constituía como as representantes e pontífices de peso das dores humanas que Jesus Cristo viera carregar, e que os filhos de Sua Igreja têm como primeiro dever abrandar em seus irmãos.

A lepra tinha, pois, naquela época, qualquer coisa de sagrado aos olhos da Igreja e dos fiéis: era um dom de Deus, uma distinção especial, uma expressão, por assim dizer, da atenção divina.

Os anais da Normandia contam que um cavaleiro de muito ilustre linhagem, Raoultz Fitz-Giroie, um dos valentes do tempo de Guilherme o Conquistador, tendo-se tornado monge, pediu humildemente a Deus, como uma graça particular, ser atingido por uma lepra incurável, a fim de resgatar assim seus pecados.

Deveres da caridade, Holy Cross, Gilling East, Yorkshire
Deveres da caridade, Holy Cross, Gilling East, Yorkshire
E foi atendido... A mão de Deus, de Deus sempre justo e misericordioso, havia tocado um católico, o havia atingido de uma maneira misteriosa e inacessível para a ciência humana. Desde então havia alguma coisa de venerável em seu mal.

A soledade, a reflexão, e o retiro junto apenas de Deus, tornavam-se uma necessidade para o leproso.

Mas o amor e as preces de seus irmãos o seguiam em seu isolamento. A Igreja soube conciliar a mais terna solicitude para com esses rebentos desafortunados de seu seio com as medidas exigidas pela saúde de todos para impedir a extensão do contágio.

Quiçá não haja em sua liturgia nada de mais tocante, e ao mesmo tempo de mais solene, do que o cerimonial denominado ‘separatio leprosorum’, com o qual procedia-se ao afastamento daquele que Deus havia atingido, nos povoados onde não havia hospital especialmente consagrado aos leprosos.

Celebrava-se, com a presença do leproso, a Missa dos mortos, após tendo benzido todos os utensílios que lhe deveriam servir na sua solidão.

E, depois de que cada assistente lhe tivesse dado sua esmola, o clero, precedido de Cruz e acompanhado por todos os fiéis, conduzia-o a uma cabana isolada que lhe era assinalada por moradia. Sobre o telhado dessa choupana o padre colocava terra do cemitério, dizendo ‘Sis mortuus mundo, vivens iterum Deo’ (“Morre para o mundo, e renasce para Deus!”).

O padre lhe dirigia a seguir um sermão consolador, no qual lhe fazia entrever as alegrias do Paraíso e sua comunhão espiritual com a igreja, cujas preces eram por ele adquiridas em sua solidão mais ainda do que anteriormente.

Depois ele plantava uma cruz de madeira diante da porta da cabana, aí colocava uma caixa para receber a esmola dos transeuntes, e todos se afastavam...

Apenas na Páscoa os leprosos pediam sair de seus “túmulos”, como o próprio Cristo, e entrar por alguns dias nas cidades e aldeias para participar das alegrias universais da Cristandade.

Quando morriam assim isolados, celebravam-se por eles os funerais com o ofício dos Confessores não-Pontífices.

O pensamento da Igreja tinha sido compreendido por todos seus filhos. Os leprosos recebiam do povo os nomes mais doces e mais consoladores; chamava-se-lhes os 'doentes de Deus’, os ‘queridos pobres de Deus’, os ‘bons’.

Gostava-se de lembrar que o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo tinha sido designado, pelo Espírito Santo, como um leproso: ‘Et nos putavimus Eum quasi leprosum’; Ele tinha um leproso como anfitrião quando Maria Magdalena veio Lhe ungir os pés; Ele escolhera o leproso Lázaro como símbolo da alma eleita. Ele, com freqüência, tomara essa forma para aparecer a Seus santos sobre a terra.

Acresce que foi principalmente depois das peregrinações na Terra Santa e nas Cruzadas que a lepra se tinha espalhado pela Europa. Essa origem aumentava seu caráter sagrado.

Uma Ordem de Cavalaria, a de São Lázaro, fora fundada em Jerusalém para se consagrar exclusivamente aos cuidados dos leprosos, e tinha um leproso como grão-mestre; e uma Ordem feminina devotara-se ao mesmo fim na mesma cidade, no hospital Saint-Jean l’Aumônier.

Certa vez que o Bispo Hugo de Lincoln – do Franco-Condado por nascimento e cartuxo por religião – celebrava a Missa, admitiu os leprosos ao ósculo da paz; e como seu chanceler o lembrasse que São Martinho curava os leprosos beijando-os, o Bispo respondeu: “Sim, o ósculo de São Martinho curava a carne dos leprosos, mas a mim é o ósculo dos leprosos que cura minha alma”.

Entre os reis e os grandes da terra, nossa Isabel não foi a única a honrar Cristo nos sucessores de Lázaro. Príncipes ilustres e poderosos consideravam esse dever como uma das prerrogativas de suas coroas.

Roberto, Rei da França, visitava sem cessar seus hospitais. São Luís tratava-os com uma amizade toda fraterna, visitando-os no Quatre-Temps, e osculava suas chagas. Henrique III, Rei da Inglaterra, fazia o mesmo.

A condessa Sibila de Flandres, tendo acompanhado seu marido Teodorico a Jerusalém, em 1156, passava o tempo que o conde empregava em combater os infiéis no hospital de Saint-Jean l'Aumônier para aí cuidar dos leprosos. Um dia em que ela lavava as chagas desses infortunados, sentiu, como nossa Isabel, seu coração sublevar-se contra tão repugnante ocupação.

Mas, logo em seguida, para se castigar, tomou na boca a água da qual acabava de se servir e a engoliu, dizendo a seu coração:

“É preciso que aprendas a servir a Deus nesses pobres; eis teu oficio, mesmo que arrebentes”. 

Quando seu marido deixou a Palestina, ela pediu-lhe permissão para aí ficar, a fim de consagrar o resto de seus dias ao serviço dos leprosos.

Seu irmão, Balduino III, Rei de Jerusalém, juntou seus rogos aos daquela heroína da caridade; o conde resistiu prolongadamente, e não consentiu em separar-se de Sibila senão depois de ter recebido do Rei, seu cunhado, como recompensa pelo sacrifício, uma gota do Sangue de Nosso Senhor, recolhido por José de Arimatéia, na ocasião da deposição da Cruz.

Santa Catarina de Siena
Ele, então, retornou só à sua pátria, levando consigo esse tesouro sagrado, que foi depositar em sua cidade de Bruges; e os piedosos povos de Flandres tomaram conhecimento com grande veneração de como seu conde tinha “vendido” sua esposa a Cristo e aos pobres, e como ele lhes trazia, como preço desse “negócio”, o Sangue de seu Deus.

Mas, sobretudo, foram os santos da Idade Média que testemunharam aos leprosos um devotamento sublime.

Santa Catarina de Siena teve suas mãos atingidas pela lepra ao cuidar de uma velha leprosa que ela própria quis amortalhar e enterrar; mas, depois de ter assim perseverado até o fim no sacrifício, viu suas mãos tornarem-se brancas e puras como as de um recém-nascido, e uma suave luz sair das partes que tinham sido mais atacadas.

São Francisco de Assis e Santa Clara, sua nobre seguidora; Santa Odília da Alsácia, Santa Judith da Polônia, Santo Edmundo de Canterbory, e mais tarde São Francisco Xavier e Santa Joana de Chantal compraziam-se em proporcionar aos leprosos os mais humildes serviços. Freqüentemente suas preces obtinham uma cura instantânea.

É no seio dessa gloriosa companhia que Isabel ocupava já lugar pelos anseios invencíveis de seu coração para o Deus que ela sempre via na pessoa dos pobres; mas, enquanto esperava poder gozar com eles as alegrias eternas no céu, nada bastava na terra para aquietar o ardor da compaixão que devorava seu coração, nem para curar os langores dessa alma enferma e dilacerada pelos sofrimentos dos seus irmãos.

(Fonte: Charles de Montalembert, « Histoire de Sainte Élisabeth de Hongrie », Pierre Téqui, Libraire Éditeur, Paris, 1930, T.11, pp. 114-122)


GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS
Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS

O milagre da escada... de Nossa Senhora da Escada! (Lisboa, Portugal)

$
0
0
Nossa Senhora da Conceição da Escada, Lisboa, Portugal. Fundo: castelo de São Jorge
Nossa Senhora da Conceição da Escada, Lisboa, Portugal.
Fundo: castelo de São Jorge, Lisboa
Há muitos, muitos anos, ainda nos alvores da História portuguesa, existia no Rossio de Lisboa, uma pequena ermida abobadada e com a altura de um primeiro andar. Quem a construiu? E porquê? É o que vou recordar.

Quase desgrenhada de tanto correr, a rapariga estava ofegante, exausta. O seu traje falava de miséria, o seu rosto tinha estampada uma expressão de horror. Parou olhando o céu, e chamou, numa voz entrecortada pela dificuldade da respiração:

— Minha Nossa Senhora! Por tudo vos peço que me salveis! Eu estou inocente! Nada roubei, pois apenas quis dar de comer à minha filhinha que morria de fome... Salvai-me, Virgem Santíssima! Salvai-me, e tereis em mim uma serva para toda a vida!

Atrás dela soaram os passos dos seus perseguidores. Desesperada, ela achou forças para voltar a correr. Dobrou a esquina do Rossio e, de súbito, ouviu uma voz que vinha do Alto:

— Vou salvar-te, minha filha, O teu pecado está já bem redimido pela tua dor. Quiseste apenas salvar a tua filha. Agora sou eu quem te salvará.

A rapariga abriu os olhos num espanto e estacou. Olhava em todas as direcções. Abanava a cabeça, como se não acreditasse na realidade, e gritou quase:

— Senhora! Senhora! Não sei se é milagre ou loucura, a voz que oiço! Mas se sois vós, ó minha Mãe do Céu, dizei-me como podereis salvar-me, se os meus perseguidores já estão a dobrar a esquina?...

De novo a voz vinda do Alto fez-se ouvir:

— Olha na tua frente. Que vês?

— Uma escada... Mas aqui... havia apenas uma parede!...

— Pois sobe por essa escada e segue essa estrelinha que brilha sobre ela.

— Subir?

— Sim. Mas depressa! Eles já estão a chegar!

Cruzando as mãos sobre o peito, a rapariga começou a subir e em breve se perdia no espaço...

Furioso, o chefe gritava:

— Não pode ser! Ela não tinha asas nos pés! Procurem-na bem! Vejam na Corredoira. Ela tem de estar escondida em qualquer parte!

Um dos homens encolheu os ombros e afirmou:

— É impossível! A rapariga sumiu-se como o fumo!

O que parecia mandar gritou, colérico:

— Deixem-se de parvoíces! Procurem até encontrá-la!

Mas a pesquisa foi baldada. Armaram um cerco que foram apertando. E nada! Faziam perguntas a quem topavam pelo caminho. Ninguém tinha visto a rapariga. De súbito, na Corredoira, alguém parecia ter algo para dizer. Correram quantos por ali se encontravam, fazendo perguntas. Mal refeita de espanto, uma velhota tartamudeou:

— Eu via-a... Via-a com estes olhos que Deus me deu...

— E onde?
A devoção a Nossa Senhora da Escada se espalhou pelo Brasil. Nossa Senhora da Escada, Guararema, SP
A devoção a Nossa Senhora da Escada se espalhou pelo Brasil.
Nossa Senhora da Escada, Guararema, SP

— Além... falando com o Céu...

O chefe gritou:

— Deixem a velha, que ela está doida!

Mas a velha insistiu:

— É verdade! Ela olhava e falava para o Céu. Parecia esperar uma resposta e depois falava outra vez.

O chefe fechou os punhos, mais irritado.

— Não percamos tempo com ela! Procurem melhor!

A voz da velha voltou a ouvir-se:

— É escusado! Eu vi como sucedeu aquilo...

O homem franziu as sobrancelhas e perguntou:

— Aquilo o quê? Fala, velha idiota. E de maneira que te perceba!

A velha olhou o céu. Suspirou fundo e pareceu decidir-se:

— Pois é verdade... Ainda me custa a acreditar! Calculem que a rapariga avançou para a parede da esquina e subiu por ela como se estivesse a subir uma escada...

O homem interrompeu-a num berro:

— Estás a brincar connosco ou endoideceste?

Medrosa, tremendo, a velhota volveu:

— Juro que digo a verdade, senhores! Ela subiu até desaparecer. Foi nesse momento que os senhores chegaram.

O homem que parecia comandar os outros tentou acalmar-se. Fazia um visível esforço para se dominar.

— Ora vamos falar como pessoas sensatas. Vossemecê diz que viu a rapariga subir pela parede como se fosse por uma escada e desaparecer?

— Juro que vi!

— E não acha isso estranho?

A velhota arfava. Pôs as mãos.

— Acho, sim, meu senhor! Creio que foi um milagre! O Céu atendeu-a!

O homem calou-se. Olhou de sobrancelhas carregadas o sítio do muro por onde a velhota dizia ter visto a rapariga subir...

E murmurou num eco:

— Milagre! Foi um milagre!

Alguns meses passaram. Certa manhã, um homem de armas passava na Corredoira. De repente parou. Junto ao muro para que sempre olhava quando ia por ali, estava uma jovem, muda e queda como uma estátua. O homem-aproximou-se.

— Ouve cá. Tu conheces-me?

A jovem estremeceu, como se despertasse de um sonho. Olhou-o de frente. Sorriu com bondade, e disse:

— Conheço, sim, senhor. Foi naquele dia em que eu tirei aquele pão para a minha filhinha... Ela morria de fome... Mas a Virgem do Céu salvou-me...

A devoção a Nossa Senhora da Escada se espalhou pelo Brasil. Nossa Senhora da Escada, Escada, PE
A devoção a Nossa Senhora da Escada se espalhou pelo Brasil.
Nossa Senhora da Escada, Escada, PE
O homem perguntou:

— Como fugiste?

Com o ar mais inocente, a jovem respondeu:

— Subi pela escada que a Senhora me pôs na frente.

— E donde surgiu a escada?

— Não sei. Vi-a ali, de repente. E a Senhora mandou-me subir.

— Porque te ajudou Ela?

— Porque eu lhe pedi.

— Mas tu roubaste!

— Ela sabia que precisávamos comer, e aquele a quem tirei o pão tem recebido muito do meu trabalho sem nada me dar.

— Porquê?

— Porque é mau e queria forçar-me pela fome a entregar-lhe o meu corpo. Fiquei muito cedo sem o pai da minha filha. Sou órfã de pai e mãe. Agora, já tenho trabalho... e estou a juntar para construir aqui uma ermida.

— Tu? Mas isso custa muito dinheiro!

— É verdade. Mas tenho tido muitas ajudas.

— Queres também a minha?

— Ficarei muito contente. E a Senhora também.

— Como vais chamar à ermida?

— Não sei. Ainda não pensei nisso.

— Pois chamar-lhe-ás Ermida de Nossa Senhora da Escada!

O povo é escravo da sua palavra quando ela é ditada pelo coração. Mais depressa do que poderiam supor, a ermida de Nossa Senhora da Escada foi erguida. E para a sua breve construção muito contribuiu o relato do milagre, mil vezes repetido por uma simpática velhinha, que rematava sempre assim os seus discursos:

— Acreditem que foi um milagre! Eu vi com estes olhos que a terra há-de comer. Eu vi a rapariga subir pela parede como se fosse uma escada! O Céu ouviu-a porque ela o merecia, apesar das tristes aparências!

E desde o dia em que a ermida se levantou, o povo não mais deixou de acorrer a pedir os seus favores à Senhora da Escada.

(Fonte: Biblio MARQUES, Gentil, Lendas de Portugal, Lisboa, Círculo de Leitores, 1997 [1962] , p.Volume IV, pp. 53-56)


GLÓRIACRUZADASCASTELOSCATEDRAISHEROISCONTOSCIDADESIMBOLOS

Voltar a 'Glória da Idade MédiaAS CRUZADASCASTELOS MEDIEVAISCATEDRAIS MEDIEVAISHERÓIS MEDIEVAISCONTOS E LENDAS DA ERA MEDIEVALA CIDADE MEDIEVALJOIAS E SIMBOLOS MEDIEVAIS
Viewing all 378 articles
Browse latest View live