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"O ângelus", Jean-François Millet (1814-1875) |
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Luis Dufaur Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A oração do Ângelus compõe-se de duas partes essenciais: a oração e o som do sino.
O sino dá ao Ângelus uma solenidade excepcional.
Por que o sino toca o Ângelus de manhã, ao meio-dia e à tarde?
Por ordem da Igreja Católica, cumpre a palavra do rei profeta: "À tarde, de manhã e ao meio-dia, cantarei os louvores de Deus, e Deus ouvirá a minha voz".
Clique para ouvir os sinos da torre norte da catedral de Paris :
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Sino da Catedral de Brouges, França |
De manhã, a sua Ressurreição, e ao meio-dia a sua Ascensão.
De manhã, dá o sinal do despertar, da oração e do trabalho.
Ao meio-dia, adverte o homem de que a metade do dia é passada, e que a sua vida não é mais que um dia.
À tarde, toca ao recolhimento e ao repouso.
Diz ao homem: faze tuas contas com Deus, pois esta noite talvez Ele exigirá a tua alma.
Fazendo ouvir a sua voz três vezes por dia, recorda aos cristãos as lembranças de um glorioso passado, essas belicosas expedições, a honra eterna dos Papas, que salvaram o Ocidente da barbárie muçulmana.
Clique para ouvir os sinos da abadia de Ettal, Alemanha:
Toca três vezes, para recordar as três Pessoas da Trindade, às quais o mundo é devedor da Encarnação.
Toca nove vezes, em honra dos nove coros de anjos, para convidar os habitantes da Terra a abençoar com eles o seu comum benfeitor.
Entre cada tinido - ou melhor, entre cada suspiro - deixa um intervalo, para que sua voz desça mais suavemente ao coração e desperte com mais segurança o espírito de oração.
Por que, depois do tinido do Ângelus, o sino faz ribombar sua voz? Canta uma dupla redenção: a redenção dos vivos, pelo mistério da Redenção, e a redenção dos finados, pela indulgência ligada ao Ângelus.
Clique para ouvir os sinos da catedral de Colônia, Alemanha:
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Catedral de Aachen (Aquisgrão), Alemanha |
Assim opera a Igreja da terra, cheia de ternura por sua irmã padecente.
Por que chora o sino na agonia? Se reflete as alegrias deve refletir também as dores.
Para sustentar o jovem cristão nos combates da vida, o sino pede as nossas orações.
Como não solicitá-las nas lutas da morte? Entre todas, estas lutas não são as mais terríveis e as mais decisivas.
No toque da agonia, o sino diz: "Miseremini mei saltem vos amici" - Tende piedade de mim, pelo menos vós que fostes meus amigos!
Vinde orar por mim, vinde sepultar o meu corpo, vinde acompanhá-lo à igreja, depois ao dormitório, onde ele deve repousar até a ressurreição dos mortos.
O sino, nesse momento, assemelha-se a uma mãe que, na sua terna solicitude, não se permite nem paz nem trégua, para clamar em socorro de seus filhos desgraçados e obter a sua libertação.
Clique para ouvir o sino mor da catedral de Paris :
Também o sino deve tornar o cristão invencível na sua guerra contra os demônios.
Ao estridor dos sinos - acrescenta um de nossos antigos liturgistas - os espíritos das trevas são penetrados de terror, da mesma forma que um tirano se espanta quando ouve ressoar nas suas terras as trombetas guerreiras de um monarca seu inimigo.

Chama o viajante desencaminhado, e indica-lhe a estrada que deve seguir para chegar ao lugar onde achará a hospitalidade.
Uma imagem do que também acontece com as almas perdidas no pecado.
Eram inteiramente outros os sentimentos de nossos religiosos antepassados.
Testemunhas inteligentes das bênçãos e das consagrações praticadas pela Igreja no batismo dos sinos, devotavam-lhe um profundo respeito e santo pavor.
Clique para ouvir os sinos da catedral imperial de Bamberg,, Alemanha :
Daí vem que temiam infinitamente mais jurar sobre um sino consagrado do que sobre os próprios Evangelhos.
(Fonte: Mons. Gaume, “L’Angelus au dix-neuvième siècle”)
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